Li esta semana que 2.023 pessoas morreram no trânsito do Rio Grande
do Sul ao longo de 2014. O dado foi divulgado durante o Fórum Gaúcho
Maio Amarelo, promovido pelo Instituto Zero Acidente. O dado numérico
assim, solto e fora de contexto, não chama muito a atenção. Mas
basta fechar os olhos para refletir sobre esta cifra mortal e dos
impactos social e humano.
O volume de barbaridades verificadas no trânsito consagrou uma
certeza: sair e voltar para casa ao volante é uma proeza cercada de
riscos cada vez maiores. O nível de estresse nas ruas, avenidas e
rodovias do Brasil é agravante que amplia os perigos. Não raro,
pequenos delitos de trânsito evoluem para crimes contra a vida a
partir de brigas, discussões, xingamentos e manobras para “vingar”
provocações entre motoristas.
Afirmar que o currículo de nossas escolas está defasado, distante
da realidade é pecar na redundância. Existem inúmeros conteúdos
que deveriam ser tratados com profundidade pela importância para a
formação dos jovens. Esses ensinamentos, talvez, significassem
economia de bilhões e redução de milhares de mortes a cada ano.
É comum ouvir-se que a parte mais sensível do corpo humano –
tratando de punições – é o bolso. Este raciocínio, quase
mágico, leva a pensar que a aplicação de pesadas multas
pecuniárias resolveria parte dos problemas. Infelizmente o dia a dia
demonstra que não é bem assim. Recente majoração das penalidades
não diminui as mórbidas estatísticas.
Diariamente somos sacudidos por notícias em que o álcool,
associado à imprudência, causa acidentes que beiram a barbárie,
ceifando a vida de famílias inteiras. Há poucos dias, uma colisão
na Região Metropolitana envolveu bebida, drogas, excesso de
passageiros e alta velocidade que, é claro, culminou com o aumento
das estatísticas fatais.
A vida moderna, que pulsa sob o signo da ostentação e do
consumismo, empurra os jovens em busca de aventuras sem retorno.
O estímulo às “proezas” com carros e motos encontra terreno
fértil nas redes sociais. Ali se multiplicam loucuras compartilhadas
aos milhares, onde o nível de insanidade é proporcional ao número
de “curtidas”.
Longe dos bancos escolares, noções de convivência em sociedade se
perdem com a chegada da maturidade. O resultado são números
idênticos a perdas humanas de guerras, cataclismos da natureza e
outros fenômenos. Enquanto isso, pais e mães choram a perda de seus
filhos.
*Servidor público
Fonte: Correio do Povo, página 2 de 15 de maio de 2015.
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