sábado, 6 de junho de 2015

A morte sobre rodas, por Gilberto Jasper*

 Li esta semana que 2.023 pessoas morreram no trânsito do Rio Grande do Sul ao longo de 2014. O dado foi divulgado durante o Fórum Gaúcho Maio Amarelo, promovido pelo Instituto Zero Acidente. O dado numérico assim, solto e fora de contexto, não chama muito a atenção. Mas basta fechar os olhos para refletir sobre esta cifra mortal e dos impactos social e humano.
O volume de barbaridades verificadas no trânsito consagrou uma certeza: sair e voltar para casa ao volante é uma proeza cercada de riscos cada vez maiores. O nível de estresse nas ruas, avenidas e rodovias do Brasil é agravante que amplia os perigos. Não raro, pequenos delitos de trânsito evoluem para crimes contra a vida a partir de brigas, discussões, xingamentos e manobras para “vingar” provocações entre motoristas.
Afirmar que o currículo de nossas escolas está defasado, distante da realidade é pecar na redundância. Existem inúmeros conteúdos que deveriam ser tratados com profundidade pela importância para a formação dos jovens. Esses ensinamentos, talvez, significassem economia de bilhões e redução de milhares de mortes a cada ano.
É comum ouvir-se que a parte mais sensível do corpo humano – tratando de punições – é o bolso. Este raciocínio, quase mágico, leva a pensar que a aplicação de pesadas multas pecuniárias resolveria parte dos problemas. Infelizmente o dia a dia demonstra que não é bem assim. Recente majoração das penalidades não diminui as mórbidas estatísticas.
Diariamente somos sacudidos por notícias em que o álcool, associado à imprudência, causa acidentes que beiram a barbárie, ceifando a vida de famílias inteiras. Há poucos dias, uma colisão na Região Metropolitana envolveu bebida, drogas, excesso de passageiros e alta velocidade que, é claro, culminou com o aumento das estatísticas fatais.
A vida moderna, que pulsa sob o signo da ostentação e do consumismo, empurra os jovens em busca de aventuras sem retorno. O estímulo às “proezas” com carros e motos encontra terreno fértil nas redes sociais. Ali se multiplicam loucuras compartilhadas aos milhares, onde o nível de insanidade é proporcional ao número de “curtidas”.
Longe dos bancos escolares, noções de convivência em sociedade se perdem com a chegada da maturidade. O resultado são números idênticos a perdas humanas de guerras, cataclismos da natureza e outros fenômenos. Enquanto isso, pais e mães choram a perda de seus filhos.

*Servidor público


Fonte: Correio do Povo, página 2 de 15 de maio de 2015.

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