Em 6 de maio de 1644, depois de vários meses em choque com os
dirigentes da Companhia das Índias Ocidentais, João Maurício de
Nassau renunciou ao governo do Brasil holandês. Sua decisão causou
comoção em Recife e demais zonas sob o domínio batavo(na época)
mil quilômetros de costa, desde São Luís do Maranhão até
Sergipe). Numa última tentativa conciliatória, alguns dos mais
proeminentes lusos brasileiros de Recife – entre os quais João
Fernandes Vieira, o mais rico de todos e, mais tarde, um dos grandes
líderes da Insurreição de 1645 – enviaram uma carta profética à
WIC na qual diziam: “Se ele (Nassau) se ausenta deste Estado, muito
em breve há de tornar a aniquilar tudo o que com sua presença
floresceu e se alcançou”. Pois foi justamente o que aconteceu.
Antes do fim de maio, pranteado por índios, negros e europeus de
muitos países, Nassau partiu. Em menos de um ano, a guerra rebentou.
Desde junho de 1641, lusos e holandeses viviam uma trégua assinada
logo depois que Portugal recuperou sua independência, separando-se
da Espanha. Ainda assim, sem a presença de Nassau, grandes senhores
de engenho decidiram rebelar-se:muitos deles estavam atolados em
dívidas com a Cia. Das Índias Ocidentais.
Libertar o Brasil implicava libertar-se também das dívidas. As
últimas safras haviam sido ruins (houve inundações, seca,
incêndios e epidemias entre 1641 e 1644), o preço internacional do
açúcar desabara, a tolerância religiosa dos tempos de Nassau
acabara. Tudo isso levou à eclosão do primeiro combate: no dia 3
de agosto de 1645 foi travada a batalha de Tabocas. Embora no
exército luso-brasileiro muitos lutassem com foices e paus, os
holandeses foram batidos. Em breve, estariam completamente
encurralados em Recife. Ainda assim, a guerra logo entraria num longo
impasse: os lusos brasileiros dominavam o interior, mas Recife
permanecia inabalável. Assim por três anos.
No dia 19 de abril de 1648, os rivais se defrontaram nos montes
Guararapes, nos arredores de Recife. Mais de 5 mil holandeses,
comandados pelo general alemão Siegmundt von Schokoppe, foram
vencidos por cerca de 2.500 lusos brasileiros, chefiados por
Fernandes Vieira, Vidal de Negreiros, Felipe Camarão e Henrique
Dias. O combate, conhecido como primeira batalha dos Guararapes,
aumento u muito o moral dos insurretos. Quase um ano depois, e no
mesmo lugar, só dois exércitos voltaram a se enfrentar. Chefiados
por Johann van den Bricken, os holandeses perderam mil homens. Entre
os brasileiros, morreram 47 brancos e 60 índios e negros, entre os
quais Henrique Dias. O cronista alemão Johann Nienhoff escreveu: “O
dia 19 de fevereiro de 1649 foi o pior de quantos no Brasil
experimentamos em muitos anos, pois, apesar da bravura com que o
nosso exército atacou (…), o adversário, animado pelos últimos
sucessos e confiante na sua superioridade numerica, conseguiu (…)
(fazer) o Exército holandês bater em retirada”. Os comandantes
holandeses foram todos mortos. A segunda batalha dos Guararapes foi
um confronto decisivo. Mesmo assim, a capitulação dos holandeses
levaria cinco anos. Sitiados em Recife, eles resistiram até 26 de
janeiro de 1654. Mas, então, em guerra com a Inglaterra, em
permanente conflito interno com a Zelândia e precisando do sal de
Setúbal para salgar os peixes, a Holanda desistiu da Guerra do
Açúcar e abandonou o Brasil. Em 1661, depois de receber dos
portugueses uma compensação de 4 milhões de cruzados, a Holanda
abdicou oficialmente de suas pretensões no Brasil. A essa altura, os
palácios e jardins de Nassau já haviam sido “consumidos na
voragem do fogo e sangue dos anos de guerra”. E o conde era
governador da província de Kleve, na Alemanha, onde em 1679, morreu
aos 75 anos, empobrecido, com sua monumental “Brasiliana”
dispersa por vários palácios da Europa.
Fonte: História do Brasil (1996), página 62.
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