Mesmo tendo fracassado,
Babeuf e o seu diretório secreto traçou certas coordenadas para a
ação revolucionária que irão se imitadas e seguidas pelos mais
diversos agrupamentos de ação que se formaram ao longo da história
do movimento socialista e radical europeu e internacional, sendo
seguidos por Louis-Aguste Banqui, Vladmir Lenin ou Ernesto “Che”
Guevara.
A primeira dessas
características é a ideia do substituismo, isto é, o direito que
um grupo de homens de ação passa a outorgar-se em agir em
substituição às massas apáticas. Considerando-se os portadores de
uma vontade popular emudecida e paralisada, atuam como os lugar
tenentes delas. Ao tomar o lugar das massas, fazem o que, na sua
imaginação, o povo gostaria de fazer. Trata-se da mesma lógica
seguida por Lenin na sua concepção da “vanguarda do
proletariado”, e a de Che Guevara com a teoria do “foquismo
revolucionário”. A segunda dessas características herdadas do
babovismo, é um certo descaso para com as chamadas condições
objetivas, um desprezo para com a realidade circundante, acreditando
que a vontade política em agir, em tomar de assalto o poder, é
talvez mais determinante do que o desejo das massas em se insurgir.
Para eles o povo sempre é suscetível a ideia de uma revolução,
mas encontra-se paralisado por uma série de razões. A terceira, é
uma arraigada desconfiança para com os procedimentos democráticos.
Como as eleições são incapazes de implantar a tão esperada e
anunciada República dos Iguais, os babovistas, e todos aqueles que
neles se inspiraram, tendem a menosprezá-las como um instrumento
legal e válido para se atingir a comunidade igualitária, ou sequer
capaz de distribuir as riquezas.
Chega-se então à
derradeira característica do babovismo: o recurso à violência para
abolir o império da propriedade e implantar o reino final da
igualdade. Um núcleo coeso de homens decididos, imbuídos da
justiça, causa que abraçam, tomados por uma vontade inquebrantável,
poderá ascender ao poder por meio de um golpe revolucionário e
mudar o destino da sociedade, quiçá da humanidade inteira.
Um Paleocomunista
Uma série de críticos
marxistas, especialmente no nosso século, viram Babeuf porém com
outros olhos. Ao analisarem com mais cuidado o projeto econômico
dele (a instituição de uma república igualitária baseada na
completa distribuição das terras somadas a uma produção
basicamente artesanal), viram-no como um defensor de um programa
socialmente arcaico. Alguém que não levara em consideração os
avanços tecnológicos e industrias, já bastante visíveis no século
XVIII (afinal era o século da máquina a vapor, a era de James
Watt), com a formação dos parques fabris e da classe operária.
O projeto econômico e social de Babeuf, se aplicado, significaria um
retorno a uma sociedade medieval, com suas comunas rurais e sua
modesta produção artesanal doméstica, a um formigueiro coletivista
enfim, negando assim toda e qualquer filiação com as mais elevadas
expectativas de progresso ético e técnico do Iluminismo.
Classificaram ele entre os que Marx denominou de “socialistas
feudais”, um paleocomunista que não percebera ainda o vigor das
novas forças produtivas desencadeadas pela revolução industrial do
seu tempo.
Fonte: História por
Voltaire Schilling
Nenhum comentário:
Postar um comentário