O debate
em torno da CPI do Banestado e do vazamento de informações
sigilosas envolvendo altos dirigentes do país está repleto de
contradições. A mais escancarada de todas é a que sempre surge em
momentos como esse: questiona-se a forma e ignora-se a substância.
Ou seja, condena-se a revelação pública de fatos que deveriam
estar sendo mantidos sob reserva, quando se deveria também exigir
que os acusados mostrem transparentemente que tais acusações são
improcedentes.
Esta
afirmação não significa uma tolerância para com a ilegalidades ou
exageros cometidos nas comissões parlamentares de inquérito,
especialmente no uso nem sempre transparente e adequado de
informações que as regras legais e constitucionais protegem. A
quebra indiscriminada de sigilos, a paralisia a que a CPI foi
submetida depois que começaram a vazar informações comprometedoras
para o governo e a falta de objetividade nos trabalhos dão
argumentos aos adversários dessa ferramenta institucional.
Em meio
às suspeitas envolvendo figuras do primeiro escalão da área
econômica que ainda precisam ser suficientemente explicadas, a
disputa de interesse políticos no comando da CPI do Banestado, de
onde teriam vazado as denúncias, acabou revelando uma questão
igualmente preocupante. Movidos por interesses políticos,
parlamentares que comandam a CPI mista arriscam-se até ameaçar a
credibilidade da atribuição e investigar atos do Executivo, que
compete ao Congresso. O impasse se deve justamente ao fato de terem
se desviado dos objetivos iniciais da apuração, que se concentrava
no desvio estimado em US$ 30 bilhões para fora do país entre 1996 e
2000. A CPI já produziu alguns resultados concretos até agora, como
a condenação de 14 pessoas por crime de gestão fraudulenta de
instituição financeira e formação de quadrilha. Ainda assim, o
fato de não conseguir preservar 1,7 mil quebras de sigilo fiscal,
financeiro e telefônico com autorização judicial, mesmo de pessoas
sem qualquer indício prévio de ilicitude, é inaceitável, pois
agride direitos. Sem prejuízo das investigações no âmbito da CPI,
portanto, nem do esclarecimento público de denúncias que já vieram
à tona, é mais do que hora de o Congresso corrigir seus rumos,
reenquadrando-a nos objetivos iniciais, com objetividade e
responsabilidade.
As
comissões parlamentares de inquérito existem como um instrumento
constitucional de que se servem as minorias para investigar fatos
relacionados com o poder público. Historicamente elas têm
desempenhado um papel notável de que são exemplos as que levaram a
mudanças importantes nos rumos do país ou dos processos
parlamentares. Por isso, se ocorrer, a desmoralização das CPIs
empobrecerá a democracia
SERVIÇOS
PRESTADOS
Entre as
CPIs recentes que mudaram a história do país estão as do Caso PC
Farias (que levou ao processo de impeachment do presidente Fernando
Collor), dos anões do Orçamento, do escândalo dos precatórios, do
prédio do TRT paulista, etc.
Fonte:
Zero Hora, editorial da edição de 11 de agosto de 2004, página 16.
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