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sábado, 6 de junho de 2015

A atualidade da II Guerra Mundial, por Paulo Fagundes Visentini

O fascínio e repulsa estão associados quando se trata de psar a II Guerra Mundial .E essa contradição se soma à interrogação sobre seu real significado, nunca completamente respondida, por mais que se escreva sobre ela. Por que, 20 anos após o encerramento da I Guerra Mundial, ocorreu outra ainda mais violenta?
Sem dúvida ela está associada à crise do sistema mundial, iniciada um quarto de século antes da eclosão da Grande Guerra de 1914-1918, e o desequilíbrio gerado pela Revolução Soviética. Mas o elemento catalisador foi o impacto desigual da Grande Depressão sobre as potências da época. A caixa de Pandora já estava aberta, mas a crise permitiu a manutenção do ovo da serpente.
Interesses econômicos e geopolíticos se apoiaram em aventureiros e fanáticos, num mundo desorganizado. E o conflito se transformou, também, numa luta ideológica e guerra civil de intensidade nunca vista, com progressismo e reacionismo se enfrentando mortalmente em cada país.
Tecnicamente, apesar dos discursos, se tratou de duas guerras paralelas: um conflito terrestre na Europa entre o III Reich e a União Soviética (com o apoio anglo-americano nos ares e nos mares) e uma guerra aeronaval no Oceano Pacífico entre os Estados Unidos e o Império Japonês. O resultado foi ambíguo, gerando nova Guerra, embora Fria.
Em 1945, houve a derrota da ultra esquerda, mas não a sua destruição, pois era uma aliada importante contra o comunismo. Ela sobreviveu nas sombras e, 70 anos depois, está de volta sob uma forma populista na Europa, mas sempre racista e darwinista, mal e mal contida por democracias desbotadas. Hoje, seus adversários estão desunidos e sem projeto. Da mesma forma que antes, há crise econômica, rivalidade entre potências e conflitos localizados se expandem e se fundem numa guerra em expansão.
A forma militar do conflito é impulsionada pelo jihadismo “muçulmano” do Boko Haram e do chamado Estado Islâmico, novas expressões do fascismo no Terceiro Mundo. Uma pergunta fica no ar: quem os apoia e contra quem lutam? Mais uma vez se observa interesses econômicos e geopolíticos manipulando aventureiros e fanáticos. Outra questão inquietante, já não mais tão especulativa é: seria possível uma nova Guerra Mundial? A memória histórica dura menos de setenta anos?

Paulo Fagundes Visentini é historiador, professor titular de Relações Internacionais da UFRGS.


Fonte: ZH Poa, página 11 de 3 de maio de 2015.

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