domingo, 17 de maio de 2015

Chegaram os chineses, por Jurandir Soares

O Brasil deve receber, a partir de terça-feira, a visita do primeiro-ministro da China, Li Keqiang, que chega trazendo na bagagem um pacote de investimentos de 53 bilhões de dólares. Ou seja, chega numa hora em que o país está necessitando de investimentos. E o melhor, o principal deles deverá ser no setor que aqui foi abandonado, mas que, gradativamente, vai sendo retomado: o ferroviário. Tem andado a passos de tartaruga a ferrovia Norte-Sul, cuja construção foi iniciada lá no governo Sarney, na última metade da década de 1980. Porém, essa ferrovia deve servir de ligação para um projeto muito mais ambicioso, que envolve Brasil, China e Peru – a ferrovia transoceânica. Pelo projeto, essa ferrovia sai do porto de Açu, no Rio de Janeiro, passa por Minas Gerais, entra pelo Mato Grosso, cruzando pela nova e florescente Lucas do Rio Verde. Aí, segue até Porto Velho, em Rondônia, de onde deriva para o Acre e entre para o território peruano, cruzando-o todo até o porto de Pisco, no Pacífico.

Trata-se de um projeto arrojado, cuja obra está orçada entre 5 e 10 bilhões de dólares, dependendo do seu trajeto definitivo. E esse é o problema maior. A ferrovia deve cruzar a Amazônia e os Andes, o que significa que, além do desafio da obra, há a questão ecológica. Desafios que os defensores do empreendimento pretendem vencer. Afinal, com a ferrovia se estaria diminuindo em muito o chamado Custo Brasil, que é o que se perde com o transporte. O produto que exportamos para a China deixaria de ter que sair da zona de produção do Centro-Oeste, tendo que ir até o porto de Santos ou o de Belém, para de lá cruzar o Canal do Panamá e seguir para a China.

Pelo que se observa quanto ao custo da ferrovia e o montante que o premiê chinês trará para aplicar no Brasil, essa não será a única obra resultante da cooperação. O acordo, que deve ser assinado nesta próxima semana, envolve 34 itens – principalmente obras de infraestrutura, o que, diga-se de passagem, é o que mais necessitamos para podermos aumentar nossa capacidade produtiva. Só não podemos esquecer de negociar com os chineses uma mudança na relação semicolonial que se trava hoje, quando vendemos matéria-prima e compramos produtos industrializados. Mas isto, convenhamos, depende muito mais de nós do que dos chineses. De qualquer forma, seja bem-vindo o premiê da China.

Fonte: Correio do Povo, página 6 de 17 de maio de 2015.

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