Em
tempo: no Rio-Capital, entre 2000 e 2013, nominalmente o ITBI cresceu 6
vezes; e o ICMS 2,1 vezes.
(The Economist/Estado de SP, 08) 1. A nova relevância assumida pelas terras dos grandes centros urbanos decorre de dois desdobramentos principais. O primeiro, por irônico que pareça, está associado à revolução da informática e das telecomunicações que na década de 70 começava a ganhar evidência. Em certo sentido, essa revolução causou o “fim das distâncias” profetizado pela economista e antiga colaboradora da The Economist Frances Cairncross. As cadeias de suprimento atravessaram fronteiras e oceanos; ligações para serviços de atendimento ao consumidor passaram a ser atendidas a continentes de distância. Mas se as distâncias acabaram, o mesmo não se pode dizer da localização.
2. Em meados do século 20, muitas cidades grandes que até então eram centros urbanos vibrantes, começaram a encolher. Nos anos 80, em algumas delas, esse processo sofreu uma reversão. Edward Glaeser, da Universidade de Harvard, e Giacomo Ponzetto, do centro de pesquisas CREI, de Barcelona, pensam que isso se deveu ao fato de que, em alguns setores que fazem uso intensivo do conhecimento, a tecnologia da informação tornou o trabalho muito mais lucrativo. Operadores financeiros conseguem hoje administrar os recursos de um número maior de investidores; companhias de software podem vender seus produtos a preços baixos e com facilidade num mercado global. E a explosão das atividades que fazem uso intensivo de conhecimento vem acompanhada de um crescimento igualmente explosivo de lugares especializados na geração de ideias inovadoras.
3. Em virtude disso, de Bangalore a Austin, de Milão a Paris, o solo urbano tornou-se um recurso escasso e precioso; o potencial econômico de um hectare rural no Estado do Kentucky é infinitamente menor que o de um hectare no Vale de Santa Clara, também conhecido como Vale do Silício. E não há como ampliar a área desse vale. Nunca houve tantas pessoas morando nas áreas centrais de Londres e Nova York como agora. E na medida em que crescia a demanda por moradia de qualidade, tornaram-se visíveis as consequências não intencionais do manancial de normas que regulam o uso do solo urbano.
4. De acordo com dados coletados por Robert Shiller, da Universidade de Yale, o custo ajustado à inflação de 1980 para cá, da aquisição de um imóvel novo subiu 30%. Em algumas cidades, o aumento foi maior. De 1993 a 2013, o preço dos imóveis em Boston e San Francisco sofreu uma elevação de 60% em termos reais.
5. As cidades americanas não são um caso isolado. As transformações econômicas levaram ao rejuvenescimento de cidades em todo o mundo, pressionando estoques de imóveis residenciais estagnados e elevando astronomicamente os custos de habitação. Em muitos países desenvolvidos, os imóveis passaram a ser um bem patrimonial ainda mais precioso. Os economistas que estudam essa questão em geral concordam que o aumento nos custos de habitação é consequência da elevação do custo dos terrenos urbanos. David Albouy, da Universidade de Illinois, e Gabriel Ehrlich, do Departamento de Orçamento do Congresso americano, calculam que nos Estados Unidos o valor dos terrenos é responsável por um terço do custo de habitação total; e em algumas regiões metropolitanas, equivale a quase metade desse custo. A participação elevada dos terrenos urbanos na composição dos custos de habitação resulta na geração de aluguéis polpudos para seus proprietários.
6. Em diversos países emergentes, os proprietários de imóveis também abocanham renda com a receita gerada por aluguéis. Segundo a imobiliária CBRE, os mercados de salas comerciais em Pequim e Nova Délhi estão entre os dez mais valorizados do mundo, ao passo que Kuala Lumpur e Jacarta estão entre as cidades em que os preços desse tipo de imóvel sobem em ritmo mais acelerado. A elevação da renda de aluguéis absorvida pelos proprietários de imóveis gera corrupção e desperdício de recursos. Em outubro de 2014, o jornal Times of India noticiou que os subornos exigidos nos vários estágios por que passa a aprovação de uma obra no centro de Mumbai chegavam a representar 50% dos custos básicos de construção.
7. Acontece que esse processo vem sofrendo com gargalos em vários países. Para que um trabalhador possa melhorar de vida com os altos salários em vigor em San Francisco, ele antes precisa ter acesso ao mercado local de trabalho e, para isso, tem de arcar com os aluguéis cada vez mais elevados que são consequência da oferta limitada de imóveis residenciais. A alta dos aluguéis empurra para cima os custos de habitação, até que o número de trabalhadores interessados em se mudar para a cidade seja equivalente ao de imóveis residenciais vagos. Os salários que deveriam atrair mais trabalhadores acabam indo parar no bolso de rentistas.
8. Aqueles que já têm a sorte de possuir um patrimônio imobiliário talvez se oponham também a outra abordagem óbvia para enfrentar o problema: meios de transporte mais rápidos e de maior capacidade que possibilitem que os benefícios se espalhem por áreas mais extensas. Algumas das medidas que podem ser adotadas para melhorar o transporte – como a cobrança de pedágio em áreas de trânsito congestionado – até são baratas; mas, em cidades grandes, as obras de infraestrutura são lentas e dispendiosas. A Crossrail, uma nova linha do metrô londrino, atualmente é o mais caro projeto de infraestrutura em andamento na Europa.
Ex-Blog do Cesar Maia
(The Economist/Estado de SP, 08) 1. A nova relevância assumida pelas terras dos grandes centros urbanos decorre de dois desdobramentos principais. O primeiro, por irônico que pareça, está associado à revolução da informática e das telecomunicações que na década de 70 começava a ganhar evidência. Em certo sentido, essa revolução causou o “fim das distâncias” profetizado pela economista e antiga colaboradora da The Economist Frances Cairncross. As cadeias de suprimento atravessaram fronteiras e oceanos; ligações para serviços de atendimento ao consumidor passaram a ser atendidas a continentes de distância. Mas se as distâncias acabaram, o mesmo não se pode dizer da localização.
2. Em meados do século 20, muitas cidades grandes que até então eram centros urbanos vibrantes, começaram a encolher. Nos anos 80, em algumas delas, esse processo sofreu uma reversão. Edward Glaeser, da Universidade de Harvard, e Giacomo Ponzetto, do centro de pesquisas CREI, de Barcelona, pensam que isso se deveu ao fato de que, em alguns setores que fazem uso intensivo do conhecimento, a tecnologia da informação tornou o trabalho muito mais lucrativo. Operadores financeiros conseguem hoje administrar os recursos de um número maior de investidores; companhias de software podem vender seus produtos a preços baixos e com facilidade num mercado global. E a explosão das atividades que fazem uso intensivo de conhecimento vem acompanhada de um crescimento igualmente explosivo de lugares especializados na geração de ideias inovadoras.
3. Em virtude disso, de Bangalore a Austin, de Milão a Paris, o solo urbano tornou-se um recurso escasso e precioso; o potencial econômico de um hectare rural no Estado do Kentucky é infinitamente menor que o de um hectare no Vale de Santa Clara, também conhecido como Vale do Silício. E não há como ampliar a área desse vale. Nunca houve tantas pessoas morando nas áreas centrais de Londres e Nova York como agora. E na medida em que crescia a demanda por moradia de qualidade, tornaram-se visíveis as consequências não intencionais do manancial de normas que regulam o uso do solo urbano.
4. De acordo com dados coletados por Robert Shiller, da Universidade de Yale, o custo ajustado à inflação de 1980 para cá, da aquisição de um imóvel novo subiu 30%. Em algumas cidades, o aumento foi maior. De 1993 a 2013, o preço dos imóveis em Boston e San Francisco sofreu uma elevação de 60% em termos reais.
5. As cidades americanas não são um caso isolado. As transformações econômicas levaram ao rejuvenescimento de cidades em todo o mundo, pressionando estoques de imóveis residenciais estagnados e elevando astronomicamente os custos de habitação. Em muitos países desenvolvidos, os imóveis passaram a ser um bem patrimonial ainda mais precioso. Os economistas que estudam essa questão em geral concordam que o aumento nos custos de habitação é consequência da elevação do custo dos terrenos urbanos. David Albouy, da Universidade de Illinois, e Gabriel Ehrlich, do Departamento de Orçamento do Congresso americano, calculam que nos Estados Unidos o valor dos terrenos é responsável por um terço do custo de habitação total; e em algumas regiões metropolitanas, equivale a quase metade desse custo. A participação elevada dos terrenos urbanos na composição dos custos de habitação resulta na geração de aluguéis polpudos para seus proprietários.
6. Em diversos países emergentes, os proprietários de imóveis também abocanham renda com a receita gerada por aluguéis. Segundo a imobiliária CBRE, os mercados de salas comerciais em Pequim e Nova Délhi estão entre os dez mais valorizados do mundo, ao passo que Kuala Lumpur e Jacarta estão entre as cidades em que os preços desse tipo de imóvel sobem em ritmo mais acelerado. A elevação da renda de aluguéis absorvida pelos proprietários de imóveis gera corrupção e desperdício de recursos. Em outubro de 2014, o jornal Times of India noticiou que os subornos exigidos nos vários estágios por que passa a aprovação de uma obra no centro de Mumbai chegavam a representar 50% dos custos básicos de construção.
7. Acontece que esse processo vem sofrendo com gargalos em vários países. Para que um trabalhador possa melhorar de vida com os altos salários em vigor em San Francisco, ele antes precisa ter acesso ao mercado local de trabalho e, para isso, tem de arcar com os aluguéis cada vez mais elevados que são consequência da oferta limitada de imóveis residenciais. A alta dos aluguéis empurra para cima os custos de habitação, até que o número de trabalhadores interessados em se mudar para a cidade seja equivalente ao de imóveis residenciais vagos. Os salários que deveriam atrair mais trabalhadores acabam indo parar no bolso de rentistas.
8. Aqueles que já têm a sorte de possuir um patrimônio imobiliário talvez se oponham também a outra abordagem óbvia para enfrentar o problema: meios de transporte mais rápidos e de maior capacidade que possibilitem que os benefícios se espalhem por áreas mais extensas. Algumas das medidas que podem ser adotadas para melhorar o transporte – como a cobrança de pedágio em áreas de trânsito congestionado – até são baratas; mas, em cidades grandes, as obras de infraestrutura são lentas e dispendiosas. A Crossrail, uma nova linha do metrô londrino, atualmente é o mais caro projeto de infraestrutura em andamento na Europa.
Ex-Blog do Cesar Maia
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