Só de Cargos de Confiança e Comissionados tem o efetivo do EB na ativa.
A insustentável máquina do governo
No ministério do Turismo, 16 garçons e copeiras foram
contratados para servir os executivos do órgão
FARRA DOS CARROS OFICIAIS
Não é rara a utilização dos veículos oficiais pelos ministros
fora do horário do expediente
UNIDOS PELA REFORMA ADMINISTRATIVA
Os presidentes da Câmara e Senado, Eduardo Cunha e Renan
Calheiros, propõem a redução dos ministérios
Os 39 ministérios de Dilma custam mais de R$ 400 bilhões por ano e empregam 113 mil apadrinhados. Só os salários consomem R$ 214 bilhões - quase quatro vezes o ajuste fiscal que a presidente quer fazer às custas da sociedade
Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br)
Diante da necessidade imperativa de disciplinar as desordenadas contas públicas, legadas da farra fiscal praticada no mandato anterior, a presidente Dilma Rousseff impôs ao País um aperto de cintos. Anunciou como meta de sua segunda gestão um ajuste fiscal capaz de gerar uma folga de R$ 66 bilhões no Orçamento até o fim do ano. O necessário ajuste seria digno de louvor se as medidas anunciadas até agora pela presidente não tivessem exigido sacrifícios apenas de um lado dessa equação: o dos cidadãos brasileiros. Mais uma vez, a conta da irresponsabilidade fiscal de gestões anteriores sobra para o contribuinte. Ao mesmo tempo em que aumenta impostos, encarece o custo de vida da população, ameaça suspender a desoneração de empresas e retira dos trabalhadores direitos previdenciários e trabalhistas, Dilma Rousseff segue no comando de uma bilionária máquina pública aparelhada, inchada e – o mais importante – ineficiente.
Diante da necessidade imperativa de disciplinar as desordenadas contas públicas, legadas da farra fiscal praticada no mandato anterior, a presidente Dilma Rousseff impôs ao País um aperto de cintos. Anunciou como meta de sua segunda gestão um ajuste fiscal capaz de gerar uma folga de R$ 66 bilhões no Orçamento até o fim do ano. O necessário ajuste seria digno de louvor se as medidas anunciadas até agora pela presidente não tivessem exigido sacrifícios apenas de um lado dessa equação: o dos cidadãos brasileiros. Mais uma vez, a conta da irresponsabilidade fiscal de gestões anteriores sobra para o contribuinte. Ao mesmo tempo em que aumenta impostos, encarece o custo de vida da população, ameaça suspender a desoneração de empresas e retira dos trabalhadores direitos previdenciários e trabalhistas, Dilma Rousseff segue no comando de uma bilionária máquina pública aparelhada, inchada e – o mais importante – ineficiente.
Na
semana passada, pressionada por líderes no Congresso, especialmente do
PMDB, a presidente sacou mais uma de suas promessas. “A ordem é gastar
menos com Brasília e mais com o Brasil”, disse. A
despeito do efeito publicitário indiscutível da frase, a presidente dá
sinais de que seguirá na toada já recorrente de dizer uma coisa em
público e praticar outra bem diferente no exercício do poder. O governo,
na realidade, sempre resistiu em cortar na própria
carne. Por isso, permanece desde 2010 com uma colossal estrutura
administrativa composta por 39 ministérios, a maioria deles criados para
acomodar apadrinhados políticos, cujos custos de manutenção – o chamado
custeio – consomem por ano R$ 424 bilhões. Desse
total, o gasto com pessoal atinge a inacreditável marca de R$ 214
bilhões, o equivalente a 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do País.
Esse universo de servidores soma quase 900 mil pessoas distribuídas pela
Esplanada, sendo 113.869 ocupantes de funções comissionadas
e cargos de confiança, as chamadas nomeações políticas baseadas no
critério do “quem indica. A credibilidade do governo está no fundo do
poço, e é impossível imaginar a sociedade acreditando no ajuste fiscal
sem que sejam tomadas medidas radicais para reduzir
o tamanho dessa monumental máquina. Sem cortar na própria carne, o
governo do PT não tem autoridade para pedir sacrifícios ou falar em
ajuste fiscal”, afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Não
bastassem os 39 ministérios com seus milhares de cargos de indicação
política, o que se vê hoje na Esplanada em Brasília é o claro
desperdício do dinheiro público, facilmente ilustrado pelo
excesso de regalias e benesses à disposição dos ocupantes do poder. A
principal função do ministério da Pesca, por exemplo, é distribuir o
seguro-defeso – espécie de seguro-desemprego pago a pescadores. A pouca
expressividade da pasta não limita as vantagens
e os benefícios de quem garantiu um cargo executivo no órgão
provavelmente chancelado por algum partido aliado de Dilma. Segundo
apurou ISTOÉ, há carros de luxo com motoristas disponíveis aos sete
integrantes da cúpula do ministério para deslocamento em Brasília.
O custo estimado com a regalia é de R$ 1,5 milhão por mês. Embora o
ministério esteja constantemente ameaçado de extinção, a pasta vem se
mantendo com estrutura que chama a atenção. São mil servidores em
exercício, sendo 440 indicados políticos.
O
benefício de ter carros e motoristas à disposição não é uma
exclusividade do ministério da Pesca. Segundo gestores públicos
ouvidos por ISTOÉ que já atuaram em diferentes órgãos do governo
petista, pelo menos 28 das 39 pastas permitem a benesse para quem está
até cinco níveis da hierarquia abaixo do ministro. Isso sem contar os
celulares, os cartões corporativos e uma dezena de
assessores cujas funções frequentemente coincidem. No ministério do
Turismo, que tem uma estrutura mais enxuta e apenas 268 cargos de
confiança, o que causa espécie é a quantidade de garçons e copeiras
disponíveis para atender a cúpula da pasta. Segundo um
dos servidores, há 16 funcionários para servir água e cafezinho aos
executivos do ministério.
No ministério do Turismo, 16 garçons e copeiras foram
contratados para servir os executivos do órgão
Embora
prometa cortar despesas, Dilma e sua equipe econômica não querem ouvir
falar em redução de pessoal, que consome muito
mais do que os principais programas sociais do governo. O Bolsa
Família, por exemplo, receberá R$ 27 bilhões – o correspondente a 12% do
que o País gasta com servidores federais. Já a Saúde, considerada área
prioritária para os brasileiros em todas as pesquisas
realizadas, terá investimentos de R$ 109 bilhões neste ano. Custará,
portanto, metade do gasto do governo com o funcionalismo. Atualmente, o
ministério da Educação é a pasta com maior número de funcionários da
Esplanada e serve para mostrar que o tamanho da
máquina está longe de ser sinônimo de eficiência. No órgão, há mais de
44 mil cargos de confiança, além dos 285 mil efetivos. Nos últimos anos
do governo Dilma, foram criadas 50 mil novas vagas. Em 2015, se a
presidente preservar os recursos previstos para
a pasta, serão R$ 101 bilhões destinados a cumprir a promessa utópica
de campanha de transformar o Brasil em uma “pátria educadora”. Mas até
aqui as demonstrações de gestão dadas pelo MEC são da mais completa
ineficiência. Um exemplo é o programa de financiamento
estudantil, o FIES. O governo flexibilizou as regras relacionadas aos
fiadores dos estudantes e reduziu as taxas de juros. Mas falhou no
controle dos preços das mensalidades e forçou a ampliação do programa
sem analisar os reflexos financeiros. Um exemplo
típico de má gestão em um órgão aparelhado por servidores.
FARRA DOS CARROS OFICIAIS
Não é rara a utilização dos veículos oficiais pelos ministros
fora do horário do expediente
A
Presidência da República figura em segundo lugar no ranking do número
de servidores: emprega 6.969 pessoas. Os cargos vêm
acompanhados das benesses, o que significam mais e mais gastos com o
dinheiro do contribuinte. Em outubro do ano passado, para atender aos
seus servidores, a Presidência comprou 130 taças de cristal por R$ 4,5
mil. No apagar das luzes de 2014, além de eletrodomésticos,
toalhas de banho e de rosto, o Planalto adquiriu aparelhos de malhação e
até roupões de banho. Ao todo, a conta saiu por R$ 262,8 mil. O
conjunto de banho completo custou R$ 7,8 mil. Já a aquisição de 20
frigobares, 100 bebedouros e 30 fragmentadoras de papel
custou ao órgão R$ 155,7 mil. A Presidência justificou a compra por
eventuais atendimentos em cerimônias oficiais. Outros R$ 99,3 mil foram
gastos pela Presidência na reposição de aparelhos de ginástica. Na
lista, figuram um crossover angular, um banco extensor
e outro flexor, um apolete, um crucifixo, duas esteiras eletrônicas e
um smith machine (plataforma para a realização de vários exercícios).
Segundo o órgão, a aquisição dos equipamentos ocorreu em função da
necessidade de manutenção ou melhoria do treinamento
de força e do condicionamento físico do pessoal da segurança e para
melhoria da qualidade de vida dos servidores.
UNIDOS PELA REFORMA ADMINISTRATIVA
Os presidentes da Câmara e Senado, Eduardo Cunha e Renan
Calheiros, propõem a redução dos ministérios
A
criação desenfreada de ministérios é obra recente da democracia do País
e se acentuou na era petista no poder. O ex-presidente
Getúlio Vargas (1951-54) contava com apenas 11 pastas de primeiro
escalão. Juscelino Kubitschek (1956-61, 13. O governo Fernando Henrique
Cardoso terminou seu mandato (1994-2002) com 24 órgãos. Lula
(2003-2010), para abrigar a aliança que o elegeu, criou mais
11, chegando a 35 – um recorde até então. Dilma o superou: subiu para
39. O cenário de distribuição de poder em Brasília é uma anomalia
especialmente se comparado a outros países, como França, Portugal,
Espanha e Suécia, que possuem uma média de 15 ministérios.
Para se ter uma ideia do despropósito do aparelhamento, quem hoje
discute corte de ministérios como ocorre atualmente no Brasil é o pobre
Moçambique, que possui 28 pastas e está sendo pressionado a reduzir a
própria estrutura por países que o apóiam financeiramente.
“Essa forma de gestão caminha na contramão da história e de tudo aquilo
que seria o ideal para a administração pública, não só no Brasil, mas
em qualquer País. A criação desses ministérios é uma forma de abrigar a
base aliada do governo e acelera ainda mais
as distorções dentro da máquina pública”, afirma José Matias-Pereira,
professor de administração pública da Universidade de Brasília (UnB).
A
necessidade de enxugamento da máquina administrativa ganhou eco durante
a última campanha presidencial. O então candidato
à presidência Aécio Neves (PSDB) propôs a fusão de ministérios, de modo
a reduzir drasticamente os gastos e a estrutura governamental. Nos
últimos dias, foi a vez de o PMDB encampar a bandeira da reforma
administrativa. Como se não ocupasse fatia considerável
da Esplanada e não exigisse a nomeação de um sem-número de afilhados
políticos como condição ao apoio ao governo – a qualquer governo,
diga-se – caciques peemedebistas, caso do presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, querem limitar a 20 o número de ministérios.
Um projeto de sua própria autoria já está em tramitação na Casa. Na
semana passada, depois de discursar para empresários, o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), engrossou o coro. Afirmou, em tom de
ironia, que o momento exigia o lançamento pelo
governo do programa Menos Ministérios, numa brincadeira com o programa
Mais Médicos. Renan promete apoiar a proposta de Cunha. “Isso vai gerar
menos cargos comissionados, menos desperdício e menos aparelhamento.
Devemos aproveitar a oportunidade”, disse ele.
Pressionada pelo Congresso e pelos protestos nas ruas, Dilma pode ser forçada a repensar a estrutura da portentosa burocracia que ajudou a criar. No final da última semana, informações oriundas do Planalto deram conta de que um estudo teria sido encomendado à Casa Civil visando à redução no número de pastas. Resta saber se a presidente ficará mais uma vez na retórica ou atenderá ao clamor público.
Pressionada pelo Congresso e pelos protestos nas ruas, Dilma pode ser forçada a repensar a estrutura da portentosa burocracia que ajudou a criar. No final da última semana, informações oriundas do Planalto deram conta de que um estudo teria sido encomendado à Casa Civil visando à redução no número de pastas. Resta saber se a presidente ficará mais uma vez na retórica ou atenderá ao clamor público.
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