COMENTÁRIO GEOPOLÍTICO 217 de 28 de fevereiro de 2015
Assuntos: Cenários Políticos
Qualquer
que seja a situação os Estados Maiores de todos os Exércitos iniciam por levantar os cenários
possíveis. Quando há uma força inimiga em frente, os cenários iniciam pelo que
o inimigo pode fazer: atacar, defender,retrair, reforçar... e os sub cenários –
onde ,como, quando, com que valor, para que...
Os cenários
políticos não seriam obrigações dos Exércitos, mas eles não tem como deixar de
levantá-los, ao menos para saber o que podem esperar. O resumo de levantamento
destas linhas, traçadas sumariamente é apenas para conhecimento geral do que certamente
está sendo estudado no Estado Maior do Exército, com muito, muito maior
profundidade.
Vamos partir
da situação geral: A economia está em dificuldades, o descontentamento aumenta,
o Judiciário perde a pouca confiabilidade que tinha,o Legislativo se afunda
entre mordomias exageradas sem mostrar serviço algum. A população despertou no
horror à corrupção existente com a fúria até então reprimida e tende a não mais
aceitar contemporizações. Em todas as camadas da sociedade é manifesto o desejo
de mudança. As paixões políticas antes limitadas aos comunistas fanáticos se
acendem também em outros setores. A insegurança pública atinge a níveis
alarmantes e é notória a insensibilidade em todos os níveis de governo, a
iniciar pelos legisladores que tentam acovardar a população, apesar de ligeira
melhoria nos equipamentos bélicos, a sensação de debilidade militar angustia as
Forças Armadas e a todos que pensam no assunto.
Há crença geral que alguma mudança seja
necessária e esteja para acontecer. Em cada cenário espera-se uma determinada
atitude das Forças Armadas, as principais guardiãs da nacionalidade.
Cenário nº 1- O Impeachment
Interessados:
O PMDB (presumivelmente o principal beneficiário), a oligarquia financeira internacional
(usando o PSDB) e os comunistas partidários do quanto pior, melhor.
O impeachment
interessa ao PMDB, mas só depois da metade do mandato para que o vice
presidente assuma legalmente. Do contrário haveria nova eleição e o provável
beneficiário seria o PSDB, considerando que o Congresso é dominado pelo PMDB, é
provável que o citado partido impeça o impeachment até lá. Entretanto, caso a
sucessão de escândalos eleve a rejeição ao Governo a mais de 85% a pressão
popular forçará o Congresso a levar adiante um processo de impeachment antes do
prazo desejado pelo PMDB.
Em qualquer
desses sub-cenários as Forças Armadas tendem a se manter apenas observando,
apesar dos insistentes pedidos que receberá para intervir, prosseguirá apagando
“incêndios” por ordem do Governo, sem aceitar, a não ser em casos extremos, o
pedido de intervenção feito por algum dos Poderes, como permite a Constituição.
Pode acontecer que, indignadas por alguma atitude governamental que as humilhe
ou que seja considerada de lesa-pátria as Forças Armadas façam algumas
exigências que, naturalmente, serão atendidas imediatamente não só por serem necessárias
mas principalmente para evitar uma reação maior.
Cenário 2 – A estrutura Governamental conseguir se manter.
Interessados:
O PT e aliados próximos, pessoas em cargos governamentais, os acomodados que
temem mudanças (a grande maioria) e os que desejam evitar um tipo de mudança
que pareça provável.
Com algumas
medidas corretas que corrijam ou atenuem os motivos do descontentamento
popular, com o possível entusiasmo despertado pelas olimpíadas, com a
desmoralização dos demais poderes da República, pela inépcia dos postulantes ao
cargo máximo e quem sabe em função de algum desafio internacional o Governo,
mesmo claudicando pode chegar até o final, espera-se, sem ceder as pressões
estrangeiras, para a desnacionalização da Petrobrás ou para a secessão de
terras indígenas, o que poderia ser motivo para uma intervenção militar.
Cenário 3 – Convulsão social-popular
Interessados:
Oligarquia internacional, elementos radicais de diversos matizes, pessoas e grupos
indignados, injustiçados ou espoliados e os que detestam tanto o governo que
preferem qualquer coisa a ele.
O
descontentamento geral é um barril de pólvora e uma reação inadequada a uma
passeata ou a uma greve pode servir de espoleta. Neste momento está em curso uma
greve de caminhoneiros com bloqueio de estradas. Claro que isto prejudica a
economia, mas a determinação do uso da força pode servir de “acionador”,
conforme o descontentamento popular. Se esse movimento for bem resolvido,
sabemos que haverão outros e mais fortes. Na Traição do Lula na Raposa-Serra do
Sol o Exército se recusou a cumprir as ordens e esteve a um passo de se opor em
força à imbecil decisão governamental. Outra traição destas certamente não
permitirá.
Entretanto,
só haverá uma intervenção militar autônoma em caso de grave convulsão, causada
por forças antagônicas reativas ou contra alguma medida que ameace a segurança
da Pátria ou ao menos ameace fortemente o interesse nacional e que a
intervenção seja desejada por parte significativa da população. Fora desses
casos, é improvável que as Forças Armadas decidam consertar a confusão que os civis
resolveram fazer, embora as soluções para todas as mazelas sejam de fácil
execução e certamente já estão estudadas e esquematizadas para implementação em
caso de necessidade.
O MST,
inspirado no movimento comunista internacional, bloqueia estradas e promove
invasões de propriedades privadas – A Força Nacional é enviada para protegê-los.
Índios,
orientados por ONGs estrangeiras, expulsam os não índios, bloqueiam estradas,
cobram pedágios ilegais, torturam e matam – A Polícia Federal é acionada para protegê-los.
Se algum
setor produtivo fizer algum movimento reivindicatório, mesmo dentro da
legalidade, todas as forças policiais serão acionadas CONTRA o movimento.
Talvez muitos
militares ainda pensem que a disciplina é um fim em si mesma, mas não é. A
Disciplina é um excelente meio de conjugar esforços, mas passa a ser
prejudicial quando é usada pelo chefe para tolher as iniciativas ou quando usada pelos subordinados apenas para evitar
responsabilidades, ou seja, para encobrir a covardia.
Consta da
literatura militar que Frederico II da Prússia, recriminando a falta de
iniciativa de certo comandante de batalhão, ao ouvir a justificativa de que
apenas cumpria ordens teria declarado: “O Rei não faria do senhor um oficial se
imaginasse que não saberia quando descumprir ordens”. Diz-se que existe uma
referência a esta frase numa parede da Academia Militar alemã. Até Clausewitz afirmava
que, sob certas circunstâncias, a consciência de um oficial falava mais alto do que a obediência cega.
Agora temos um Ministro da Defesa decididamente
inadequado, que já demonstrou sua aversão aos que consideramos heróis e seu
apreço aos que combatemos com armas nas mãos. Não sabemos que tipo de ordens
pensa em nos dar. Sabemos que não podemos ter confiança nele. Supomos que ele,
como sindicalista que é, saberá distinguir o que não pode fazer. Veremos.
Que o
Senhor dos Exércitos ilumine as nossas decisões
Gelio Fregapani
ADENDO
Exemplo de Quando
“descumprir” ordens
A
revolta de sargentos em Brasília
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Gen. Durval Antunes Machado Pereira de
Andrade Nery.
12 de setembro e 1963
Em Brasília um movimento
revolucionário que pregava uma ampla indisciplina contra a hierarquia militar
e contra a autoridade e a legitimidade do Poder Judiciário, representado pelo
tribunal mais alto, que é o Supremo Tribunal Federal, toma de assalto a
capital do País e cria a "República Sindicalista Comunista do
Brasil".
O Exército determina o deslocamento da
1ª Companhia de Fuzileiros Pára-quedista para Brasília, com a seguinte
missão: "Realizar um salto de combate para libertar Brasília, dos
revoltosos".
Eu comandava esta companhia. Abaixo,
transcrevo, o meu testemunho sobre a rebelião de Brasília. São fatos que
presenciei e constam do meu depoimento publicado na página 169, do Tomo 10 -
História Oral do Exército - 31 de Março – 1964
"... Em 1963, saí da Companhia de
Petrechos Pesados e assumi o comando da 1ª Companhia de Infantaria Paraquedista,
Companhia de pronto emprego, do Regimento de Infantaria Paraquedista. Demos
um nome à companhia – "Companhia Cobra". Essa Companhia deveria
estar pronta para se deslocar em uma hora. Um dia, às 5h da manhã, recebi
ordem para desencadear o plano de chamada e preparar a Companhia para uma
missão. Pelo horário, teria sido mais fácil esperar a chegada dos soldados,
às seis horas no quartel.
Às 7 horas, estava com a Companhia
pronta, tudo pronto. O material ficava realmente enfardado. O efetivo era em
torno de duzentos homens. O Coronel me chama e ao seu Estado-Maior. Entra o
General Pinheiro –Comandante do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, indagando:
"- Qual é a Companhia que vai cumprir a missão"?" "- A 1.ª Companhia". "- Quem
é o Comandante?" "- Eu,Tenente
Nery". "- Tenente, aqui!".
Fiquei em pé, ao lado dele. Ele abriu em
cima daquela mesa grande, no cassino dos oficiais, local da reunião, a carta
de Brasília. Quando olhei, entendi o que já sabíamos durante a noite. Tinha
havido uma rebelião em Brasília, a Base Aérea fora tomada, alguns quartéis já
estavam tomados, alguns oficiais presos e a cidade estavam na mão de uma
rebelião. Só não sabíamos a extensão do problema, naquele momento. Mas era
sério. O presidente, os ministros e as principais autoridades estavam
propositadamente fora de Brasília. Na verdade, foi tudo planejado. Inclusive,
deputados participaram daquele levante. O General Pinheiro disse:
"Tenente, não está acontecendo nada em Brasília. Você vai levar a sua
tropa, desembarca, vai desarmado. Você vai fazer um desfile semelhante ao de
Sete de Setembro, no Dia da Pátria, na alameda dos ministérios"
Sabíamos que não era aquilo.
Acabáramos de ouvir na rádio – estávamos sempre atentos, ligados, tínhamos
informações. A realidade era outra. Brasília estava sublevada, era a rebelião
de sargentos, a maioria da Marinha e da Aeronáutica. Obedeciam a um
intelectualizado comando civil, não se restringiria apenas a Brasília e devia
estender-se por todo o País. Da chefia da rebelião, participavam os deputados
Neiva Moreira, do PSP-MA, Hércules Correia, Marco Antonio, do PCB-GB e Max da
Costa Santos, do PSB-GB, sob a liderança de Leonel de Moura Brizola. Pela
ordem os revoltosos pretendiam: depor o presidente da república; fechar o
Congresso; acabar, sumariamente, com o Supremo Tribunal Federal, classificado
como órgão inútil e dispensável; desvirtuar o regime e implantar uma
República (ditadura) Socialista; transformar totalmente as Forças Armadas.
Os prédios dos ministérios da Marinha
e da Aeronáutica estavam ocupados e os revoltosos já estavam no terraço, na
cobertura, no telhado dos pavilhões nos esperando. aabiam que a tropa paraquedista
ia saltar. Seríamos eliminados como pombos. Íamos saltar e desfilar
desarmados. Disse para o general: "General, não é isso..." Não
completei a frase! Quando ia começar a falar levei uma "botinada",
por debaixo da mesa. Eu estava em pé e os outros oficiais do Estado-Maior do
Regimento, sentados. O Oficial de Operações, Major Giácomo Jannuzzi Neto, me
deu um pontapé. Eu entendi. Era para ficar calado. Calei-me e ouvi a missão –
desfilar desarmado.
Ao sair dali, fui falar com o Major
Jannuzzi. Ele me disse: "- Nery, é rebelião, se você for desarmado, você vai morrer, sua tropa vai
ser eliminada. É guerra! Eles ocuparam Brasília e já leram o manifesto de
criação da república sindicalista comunista do Brasil".
Eu pergunto: "- Como é que eu
vou, Major?" "- Vá armado, claro! Você vai para a guerra!
Qual é a minha missão?" "- Você vai saltar para libertar Brasília."
Saltar, para libertar Brasília das mãos dos revoltosos, ou seja, conquistar
Brasília. Essa foi a missão. "- Onde estão os revoltosos?" "-
Ocupando os prédios dos ministérios militares. Já existem oficiais presos.
Você tem que libertá-los – descobrir onde eles estão e libertá-los". Naquele
momento, minha maior preocupação era armar a Companhia –duzentos homens. E a
munição? Veio a informação que tinham trancado a munição. O Oficial de Munições do Regimento, Tenente
Eglair Barcelos Alves me disse: "- Nery, vou me virar. Deixa
comigo!" E saiu, para conseguir a munição. Comecei a pegar o armamento,
quando chegou uma parte da munição. Tinha que "enfardar". Dei ordem
para colocar a munição no carregador e levá-la também no cinto. O grosso da
munição seria acondicionado em um cunhete, com um pára-quedas em cima para
ser lançado do avião. Após o salto, você sai correndo para procurar a
munição, pegá-la e levá-la com você. Sabendo que precisava de muitos
pára-quedas, mandei buscá-los. Chegou a informação:
"- O Major encarregado dos pára-quedas
fechou a baiúca" – como nós chamamos o local de acondicionamento dos
mesmos – "e não vai distribuir os pára-quedas para você, por ordem do
General." – o pára-quedas da munição! Na hora, imediatamente, dei a ordem para que
os cunhetes fossem abertos. Mandei distribuir a munição pelos bolsos. Iríamos
saltar com a munição dentro do bolso, em quantidade. Aí, surgiu um problema.
Soubemos que a rebelião era dos sargentos de Brasília, com o foco principal
na Marinha e na Aeronáutica. Em
virtude dos acontecimentos de 1961, quando o General Santa Rosa, Comandante
dos pára-quedistas, elogiou os sargentos por não terem cumprido ordem de seus
superiores hierárquicos, e do Governador Brizola mandando os sargentos
matarem seus oficiais, criou-se um ambiente de mal-estar dentro da tropa.
Aquilo foi sendo alimentado numa seqüência, agora essa rebelião em Brasília,
era o dia 12 de setembro de 1963... Apesar de preocupado, mandei distribuir a
munição para os sargentos. Não podia duvidar da lealdade dos sargentos.
Paguei para ver.
Estávamos em pleno aprestamento,
tínhamos que preparar a munição, preparar os fardos. O subtenente, aquele
homem mais antigo, aquele sargento que foi alçado à função de subtenente, o
administrador da carga da Companhia, chegou para mim e disse: "-
Tenente, preciso falar com o senhor, aliás, todos os sargentos querem falar
com o senhor."Eu disse:"- Bom, o que houve? Vou lá." Eles
estavam numa sala, reunidos. O subtenente iniciou: "- Tenente, o senhor
mandou distribuir a munição para todos nós, sargentos. O senhor confia nos
sargentos da Companhia?"Chamei a atenção dele: "- Em algum momento,
desconfiei de vocês? Em algum momento, pensei isso? Vocês viram isso aqui
entre os oficiais e sargentos do Regimento Santos Dumont? Não estou
entendendo o que vocês estão falando!" "- Tenente, a reunião é para
agradecer a confiança. Conte conosco. Em nenhum momento, o senhor deixará de
contar com a nossa lealdade. Conte conosco".
Assim, fui para Brasília. Eram 14
aviões. Até aeronave em manutenção decolou. Os antigos aviões C-82 voavam de
porta aberta. Cruzando a serra de Petrópolis e Teresópolis, e seguindo para
Brasília, fazia muito frio, eu sentado ao lado da porta olhando o vôo em
formação, vi um avião pegar fogo – o avião do Tenente Maia Martins. Retornou
para os Afonsos. Mais adiante, o avião do Valporto, também, pega fogo e
pronto, o efetivo estava se reduzindo. Depois, eles chegaram a Brasília –
dois dias depois– não houve problema. A nossa viagem foi longa. Foi aquilo que
eu disse: dentro do avião, você olha para o soldado e ele está lhe olhando,
você vai para lá e ele olha para lá,
você vem para cá e ele olha para cá. E eu me dei conta que eu tinha dado a
ordem, antes de decolar:
"- Nós vamos saltar na alameda
dos Ministérios. O suposto inimigo está ocupando os telhados dos quatro
prédios e vai atirar em nós. Todos os oficiais e sargentos deverão tirar a
arma do invólucro e durante a queda atirar em tudo o que se mover." Eu,
como comandante, tinha que dar uma ordem que protegesse a minha tropa e que
permitisse o cumprimento da missão. Sabia que, com duzentos homens, tinha que
libertar Brasília. O que é isso? A cabeça não funcionava. Qual a verdadeira
dimensão disso. Brasília é muito grande. Aonde eu iria procurar esse pessoal?
A ordem estava dada.
Durante o vôo, fiquei pensando: vou
chegar em Brasília às cinco horas da tarde, o expediente está terminando, os
funcionários estão cruzando a alameda dos Ministérios. São pessoas que vão
estar se movimentando. Nós vamos atirar? Muita gente vai morrer, muita gente
inocente. O mestre de salto, o comandante em cada avião, vai com o fone no
ouvido, escutando os pilotos. Eu ouvia a conversa dos pilotos. Não ia haver
combustível para prosseguir o vôo depois de Brasília. Eles diziam:
"- Nós vamos pousar em qualquer lugar". A situação era difícil e preocupava. Confesso que, sozinho – não tinha ninguém para conversar, eu era o único oficial no meu avião, os outros tenentes estavam nas demais aeronaves – fiquei preocupado, muito preocupado.
Aí, me veio a história de um outro
livro – o emprego dos pára-quedistas belgas no Congo – quando houve um
levante e muitos reféns, mais de 1.500 reféns. A tropa pára-quedista foi
empregada com sucesso – eles não saltaram em cima do objetivo. Você, na sua
introdução, falou na nossa EsAO, não foi? A Escola, que aplica a doutrina no
seu laboratório, que é o campo, associando tática e técnica com o tiro real,
o mestrado do oficial, a última escola onde aprendemos e aplicamos a tática
da Arma. É errado, no planejamento pára-quedista, você traçar a sua zona de
lançamento em cima do objetivo – você não salta em cima do inimigo. Ah! Que
felicidade! No avião, lembrei-me disso. Então, me veio aquela sensação de
satisfação – não devo saltar em frente aos ministérios –tenho que saltar
longe. Fazer como os pára-quedistas belgas: pegaram tudo o que andava, tudo o
que tivesse roda e foram correndo para o objetivo e libertaram os homens que
estavam presos, seus patrícios.
Então, imaginei: vou saltar em outro
lugar, assim nós vamos evitar atirar em tudo o que se mova. Tudo que se mova
seriam os funcionários terminando o expediente, saindo de Brasília. Adquiri
confiança e disse para o Comandante da aeronave – ele me avisaria vinte
minutos antes, com um toque de sirene dentro do avião: "Comandante,
determine a entrada em formação cerrada – para as aeronaves se aproximarem –
dê uma rasante em cima da alameda dos Ministérios. Depois, vou dar a final
para você". Nós íamos saltar, eu tinha decidido saltar depois da alameda
dos Ministérios, bem distante. Preferia ir a pé, correndo, para o objetivo.
Quando ele cerrou, dez minutos antes
de chegar em Brasília, o meu ala esquerda – eu via, a distância é curta – o
meu ala esquerda estourou o motor e pegou fogo. Era, justamente, a aeronave
do Tenente Brandão. Pegou fogo no motor. Aquilo foi imediato! Mudei a missão!
Eu disse para o Comandante da aeronave: "- Mande que siga direto para o
aeroporto" - O aeroporto estava nas mãos dos revoltosos - "Mande-o
seguir direto para o aeroporto e vamos todos para lá, vamos desembarcar."
Salto de viatura em movimento – nós sabíamos fazer isso. Quando a aeronave tocar no chão, nós saltamos sem pára-quedas, ou seja, salta e rola. É claro que nós íamos ter baixas com isso, mas nós estávamos treinados. Saltávamos de viatura em movimento até na Avenida Brasil. Nós fazíamos esse adestramento.
Ele falou: "- O aeroporto está
nas mãos dos revoltosos!" Porém, eu sabia que um pelotão de Goiânia já
estava se dirigindo para lá– uma Companhia de Goiânia – a comando do então
Tenente Machado Borges, o mesmo que chegou a General. Quando a primeira
aeronave, que era a do Brandão, tocou na pista, ele comandou o salto. Todo
mundo pulou da aeronave – joga a arma e salta feito um fardo, feito uma roda.
Você encolhe todo o corpo e sai girando, pois machuca menos. Nós pousamos em
seguida, mas houve uma ocorrência. Realmente, o aeroporto ainda estava nas
mãos dos sargentos revoltosos. Um deles, ao ver o avião pegando fogo no
motor, comentou que aquele ali já está sendo destruído pelo fogo e que ele
iria acabar com ele, jogando uma granada. E correu na direção do avião para
jogar a granada. Acontece que ele estava perto da cerca e parece que era o
estacionamento dos táxis, no aeroporto de Brasília. Os motoristas ouviram
aquilo e pularam a cerca, começando a correr atrás dele!
Foi uma cena inusitada! Os motoristas
se abraçaram com aquele sargento que tinha uma granada na mão, enquanto ele
gritava: "- Vou soltar a granada!"
Quando o Brandão chegou, com alguns
homens, a granada não tinha nem mais grampo. Estava sendo presa pelo
capacete, na mão, e o sargento já com medo de soltar a granada. Após ser
preso, ele confirmou que ia jogar a granada para destruir a aeronave, que
sabia ser da tropa pára-quedista.
Neste ínterim, desembarcamos, corremos
para frente do aeroporto e pegamos todas as viaturas, carros, caminhões e
ônibus que apareceram por ali. Desloquei-me em comboio com a minha tropa –
duzentos homens – chegamos na alameda dos Ministérios, do outro lado dos
ministérios militares. Fiz o sinal para parar e logo a seguir o de avançar.
Não falei mais nada. Nós desembarcamos correndo, tomamos de assalto os
ministérios, fomos do primeiro piso até o último e fizemos setecentos
prisioneiros. Todos estavam armados.
É preciso lembrar que ocorrera uma
ação de um pelotão da Polícia do Exército (PE), na véspera. Naquela noite, o
Tenente era o Uchoa. Mas o que houve com ele? Acontece que no momento do
ataque dos sublevados ao Ministério da Aeronáutica, ele estava com o pelotão
guarnecendo e resistiu ao ataque. Foram disparados muitos tiros contra o
pelotão dele. Que era composto de "catarinas", lembra? Naquela
época, a PE incorporava somente soldados do Sul do Brasil – os
"barrigas-verdes" catarinenses – os "catarinas". Ele deu
ordem de fogo porque tinha que impedir o ataque – era um ataque mesmo! Nenhum
soldado atirou! Nenhum soldado atirou! Ele tomou o fuzil de um soldado e
atrás de uma coluna gastou a munição, rolou para outra coluna – todos os
soldados estavam atrás das colunas do Ministério. Ele foi de soldado em
soldado e resistiu ao ataque sozinho, atirando, porque os soldados não o
fizeram!
A Biblioteca do Exército tem um livro, de
1958, "Homens ou Fogo". Eu li muito esse livro e se eu não me
engano é do General Omar Bradley que fez um inquérito na Segunda Guerra
Mundial sobre o porquê do homem não atirar, quando está em combate. (1)
Após uma operação numa das ilhas do
Pacífico, ele colocou dois ou três regimentos de "quarentena",
vamos dizer assim, numa ilha do Pacífico e ouviu do comandante ao último
soldado. Onde você estava na hora do ataque? O que houve? Por que você não
atirou? Etc. E concluiu, dizendo o seguinte: "O fator psicológico".
Ele tem uma referência interessante: o jovem, principalmente – é o nosso caso
que incorporamos recrutas – o jovem é criado para não maltratar até os
animais. É aquele negócio, não amarrem uma lata no rabo do gato, não
maltratem o animal e de uma hora para outro, dos dezessete para os dezoito
anos ele se apresenta no quartel e nós vamos ensiná-lo a atirar para matar
Disse isso, quando estava na Academia
Militar das Agulhas Negras "- Nós estamos aqui para ensinar a vocês a
matar, mas a matar em defesa da Pátria!" O tenente Uchoa ficou abismado.
Como é que o soldado dele não atirava? Não houve jeito dele atirar! No livro,
Omar Bradley diz: "- O maior índice de aproveitamento de tropas na
Segunda Guerra Mundial foi com a tropa pára-quedista e de comandos." Os
pára-quedistas russos chegavam a ter 18 % dos que atiram, no máximo 20%. Ou
seja: de cada grupo de combate de infantaria só dois homens atiram quando se
deparam com o inimigo, mesmo quando ele está correndo a dez metros de
distância. Um grupo de combate tem um sargento e um cabo. Se, dos dez
integrantes, dois atiram, somente o sargento e o cabo atiravam. Os soldados,
não. Os recrutas não atiram, é preciso muito treinamento. Uma prova foi o que
ocorreu com o Tenente Uchoa. Com a tropa pára-quedista, o rendimento é maior,
mas chegamos ao último andar dos quatro prédios dos ministérios e fizemos setecentos
prisioneiros.
Quantos tiros nós demos? Nenhum.
Prendemos a todos, depois de tomarmos de assalto o local. Foram colocados num
andar e ficamos no outro andar, embaixo. Durante 45 dias, nós ficamos ali
guarnecendo. Nós dormíamos no chão. Eles dormiam no andar de cima, também, no
chão, o mesmo espaço, as mesmas condições sanitárias – nós estávamos no andar
de baixo e eles sabiam que não podiam descer, eram sargentos.
Já à noite, reorganizei minha tropa.
Veio uma informação rápida: acabaram de entrar num bloco de apartamentos, em
uma superquadra e cortaram os pulsos da esposa de um oficial, porque queriam
prender o marido. Ela foi salva pelos vizinhos. Cortaram os dois pulsos
porque ela não dizia onde estava o marido. Ela também não sabia. Ele tinha
saído para ir ao quartel. Ela nem sabia se ele já estava preso. Queriam o seu
marido. Era um oficial do Exército, um capitão, e cortaram os pulsos dela.
Fiquei com medo, porque aquilo poderia representar para a tropa uma reação
maior, a partir dali. Graças a Deus não foi preciso.
Outra informação: na rodoviária de
Brasília, a última passagem, a mais baixa, naquela época 1963, – a Rodoviária
não estava concluída, ainda estava em obra – fora fechada pelos revoltosos.
Eles fecharam de um lado e do outro. Deixaram uma porta e escreveram no muro
– Paredão –e colocaram, em posição, um pelotão da tropa dos fuzileiros
navais, com metralhadoras. Iam começar o fuzilamento dos oficiais que já
estavam presos.
Peguei um grupo e mandei ao comando do
Tenente Valporto, para a Rodoviária. Prendemos todo o pelotão, com as
metralhadoras em posição, prontas para fuzilar os oficiais.
Essa foi a minha vivência em 1964 e antes de 1964, em 1963. Prendemos o pelotão e abriu-se o inquérito. Nós até fizemos um comentário, porque o inquérito foi feito na Marinha. A maioria dos sublevados era da Marinha. Conversando com o encarregado do inquérito lhe disse: "- Comandante, daqui a 15 dias vão estar todos de volta, como se nada tivesse ocorrido". Esses presos foram trazidos de avião, por nós, para o Rio de Janeiro. Ficaram no navio- prisão.
Há um fato que gostaria de
acrescentar. Quatro ou cinco dias depois, chegou a Brasília um Batalhão do
Regimento Santos Dumont. Não trazia munição. O General não tinha deixado.
Passaria a integrá-lo
O negócio estava quente, porque,
ainda, estávamos fazendo a limpeza de Brasília. Informei ao Major que havia
reunido toda a munição que trouxera, em uma sala no pavilhão do
ministério."- Tem suficiente?" – Perguntou. -Eu respondi: "-
Tenho munição para um batalhão, por um ano!" Na nossa corrida, com a
proibição de sair armado, foi tanta gente levando munição, ao sairmos do Rio!
O Barcelos - Eglair Barcelos Alves, Oficial de munições... Lembro-me que, já
com todas as aeronaves "taxiando", motor ligado, ele chegou com a
viatura e foi jogando os cunhetes pela porta dos aviões. Os pilotos ficaram
preocupadíssimos! Tinha muita munição! O Batalhão cumpriu a sua missão e nós
retornamos para o Rio.
O Comandante do Batalhão, Major
Giácomo Jannuzzi Neto, chamou-me, aqui no Rio, depois da operação e me disse:
"- Nery, você vai fazer uma relação dos militares que
vão receber condecoração, por bravura,
nesta operação, você faz isso?" "- Claro, indico os homens da minha
Companhia que merecem a medalha!" Chamei o meu sargenteante e pedi que ele me
desse o mapa da força –o manifesto de vôo de lançamento dos pára-quedistas -
para que todos fossem incluídos, todos os militares que foram para Brasília
comigo, que tomaram Brasília de assalto e que tinham consciência de que libertaram
Brasília.
Entreguei ao Major Jannuzzi,
Comandante do Batalhão, a relação de toda a Companhia. Ele disse: - O que é
isso? Eu pedi para você o nome daqueles que merecem..." Eu lhe disse: "- Major, todos nós
fizemos a mesma coisa. O que um fez, o outro fez também. Todos fomos além do
dever!" Palavras dele: "- Nery, só vou indicar você, porque
condecorar duzentos por ato de bravura vai desmoralizar a medalha".Sendo
assim, somente eu seria indicado . "- Major, essa eu não vou receber. O
senhor me desculpe – ou concede para todos ou não me mantenha na relação! E,
realmente, foi isso que ocorreu. Aqueles que estavam em Brasília, foram
condecorados. Os Tenentes, Sargentos e Soldados pára-quedistas que, numa ação
enérgica e eficaz, sufocaram um movimento revolucionário que pregava uma
ampla indisciplina contra a hierarquia militar e contra a autoridade e a
legitimidade do Poder Judiciário, representado pelo tribunal mais alto, que é
o Supremo Tribunal Federal, não foram reconhecidos.
Essa era a situação vivida naquela
época, que levou à eclosão da Revolução de 1964".
Entrevista concedida em 18 de dezembro
de 2001, pelo Gen Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery.
O Gen Marshal atribuía muito dessa atitude irracional ao isolamento do sistema americano de entrincheiramento da época, e comenta que no sistema alemão de”ninho de metralhadoras” o soldado se sentia mais amparado pela vista dos camaradas e combatiam melhor, enquanto os americanos na Coréia , isolados em sua trincheira individual, frequentemente ficavam agachados no fundo, atirando ruidosamente para cima, sem nenhum efeito, até serem mortos a baioneta pelos chineses que avançavam impunentemente, mais por medo de matar do que de morrer. Coisas talvez dos valores da civilização moderna, que entre nós só pode piorar com o acovardamento oficial. GF |
Comando Nacional do Transporte convoca caminhoneiros a fechar Brasília
Pedro Peduzzi – Repórter da Agência Brasil
Edição: Valéria Aguiar
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Na proposta apresentada, o governo prometeu sancionar sem vetos a Lei dos Caminhoneiros, prorrogar por 12 meses o pagamento de caminhões, conforme o Programa Procaminhoneiro, além de criar, por meio de negociação entre caminhoneiros e empresários, uma tabela referencial de frete.
Nos vídeos divulgados pelo Comando Nacional do Transporte, Schmidt convoca os caminhoneiros a se dirigir aos postos de combustíveis localizados nas proximidades de Brasília, para organizar a logística do buzinaço, prometido para esta segunda-feira, por volta das 18h, na capital federal. “Conclamo todos a fechar Brasília”, disse o caminhoneiro.
Agência Brasil
Começa a funcionar novo número do BC para reclamações e dúvidas
Mariana Branco - Repórter da Agência Brasil
Edição: Graça Adjuto
Segundo comunicado da autoridade monetária, com a alteração, a instituição se adequa ao padrão de três dígitos uniformizado por regulamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para serviços de utilidade pública. A ligação terá custo de chamada local para todo o Brasil.
"A alteração faz parte do processo de modernização da estrutura tecnológica da central, cujo objetivo é melhorar o serviço prestado pelo BC à sociedade", informa a nota. As ligações para a Central de Atendimento são um dos instrumentos que o BC utiliza para consolidar o ranking dos bancos sobre os quais recai maior número de reclamações, além de queixas feitas em atendimentos presenciais.
Agência Brasil
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