O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgou hoje (6) nota pública na qual volta a negar que tenha “ultrapassados os limites institucionais” em suas relações políticas. Ele diz que irá se explicar sobre a autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para que seja aberto inquérito sobre a sua participação nos casos de irregularidades da Operação Lava Jato.
Na nota, Renan critica o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por não tê-lo ouvido antes de encaminhar ao STF o pedido de inquérito. “Como maior interessado no inquérito, apesar do atropelamento do Ministério Público, que poderia ter evitado equívocos me ouvindo preliminarmente, considero que este é único instrumento capaz de comprovar o que venho afirmando desde setembro do ano passado”.
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O presidente do Congresso nega, também, que tenha autorizado o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) a falar em seu nome em qualquer negociação. Renan diz ainda que dará as respostas que a Justiça pedir. “Nas democracias todos – especialmente os homens públicos – estão sujeitos a questionamentos, justos ou injustos. A diferença está nas respostas. Existem os que têm o que dizer e aqueles que não. Quanto a mim, darei todas as explicações à luz do dia e prestarei as informações que a Justiça desejar”.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), usou sua conta no Twitter para falar sobre a lista divulgada pelo Supremo. “A confirmação de que o PGR [Procuradoria-Geral da República] pediu abertura de inquérito contra mim merecerá a devida resposta assim que tiver conhecimento do conteúdo”, escreveu.
Logo após a divulgação da relação de novos inquéritos da Operação Lava Jato, o PT também divulgou nota sobre o caso. Com seis políticos citados nos inquéritos, além do seu tesoureiro, João Vaccari Neto, o partido manifestou apoio às investigações. "Reafirmamos integral apoio ao prosseguimento das investigações que se realizam no âmbito da chamada Operação Lava Jato, de forma completa e rigorosa, sem favorecimentos ou parcialidade, nos marcos do Estado Democrático de Direito", diz um trecho da nota.
O PT destacou que todos os acusados devem ter direito à ampla defesa e, explicou que, caso algum de seus filiados tenha culpa comprovada, serão aplicadas as punições previstas no estatuto do partido. O PT diz ainda se orgulhar por ser um partido cujos governos combatem implacavelmente a corrupção.
O PP, partido que mais teve membros listados entre os que serão investigados pela PGR, também divulgou nota pública. A legenda diz que não compactua com atos ilícitos e confia na apuração da Justiça para que a verdade prevaleça nas investigações da Operação Lava Jato. O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PP-PI), que também será investigado, deverá se manifestar quando tomar conhecimento dos autos.
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Guantánamo: ex-presos falam sobre a vida no Uruguai após três meses de liberdade
Monica Yanakiew - Correspondente da Agência Brasil/EBC Edição: Graça Adjuto
O ex-preso de Guntánamo Abdul Ourg, da Tunísia, faz uma oração na casa onde vive em MontevidéuDivulgação Agência Brasil
Sorridente, de camisa quadriculada, Abdelhadi Faraj poderia se passar por turista, em férias no Uruguai. No computador da antiga casa de Montevidéu, ele mostra as fotos da viagem à cidade histórica de Colônia, a convite de um empresário local. O sírio, de 34 anos, aparece junto com seus companheiros em uma fazenda, na piscina, compartilhando um churrasco e sobrevoando, em um jatinho particular, o país que o acolheu. Nem parece que Abdelhadi vive em liberdade há apenas três meses, depois de passar um terço da vida em Guantánamo – a prisão militar norte-americana em Cuba, para onde foram levados centenas de suspeitos de terrorismo, depois do ataque de 11 de setembro de 2001 às torres do World Trade Center, em Nova York.
Detido em 2002, enquanto tentava cruzar a fronteira do Afeganistão com o Paquistão, ele poderia ter saído de Guantánamo em 2009, quando o governo americano – apos reexaminar seu processo – determinou a transferência. “No entanto, permaneci outros cinco anos nessa prisão, desesperado ao ver que meu próprio país – a Síria – mergulhava em uma sangrenta guerra civil, tornando a minha repatriação impossível”, conta Abdelhadi, em carta de agradecimento que publicou no jornal El Pais, assim que desembarcou em Montevidéu em dezembro. “Se não fosse pelo Uruguai, eu ainda estaria naquele buraco negro em Cuba.”
Abdelhadi é um dos seis prisioneiros de Guantánamo, libertados pelos Estados Unidos e acolhidos pelo governo uruguaio como refugiados. “Nem consigo acreditar que estou aqui”, disse, em entrevista à Agência Brasil. Três meses em liberdade foram o suficiente para que ele se atualizasse: abriu conta no Facebook, aprendeu a dirigir com um amigo e instalou no computador um programa gratuito para aprender espanhol. Ele quer trabalhar como açougueiro – profissão que exercia antes de ser preso. Mas a inserção na sociedade leva tempo – especialmente em um país estranho, longe da família.
“Eu sei cortar a carne de acordo com o rito muçulmano, que é diferente do jeito que fazem aqui”, explica Abdelhadi. “E ainda não me recuperei do tempo que passei em Guantánamo: tenho dor de estômago, asma e me sinto cansado”, diz.
Nesta semana e na outra, os seis ex-prisioneiros – quatro sírios, um tunisiano e um palestino – serão examinados no Hospital Militar (o mesmo para onde foram levados assim que chegaram a Montevidéu). O próximo passo será reacomodá-los: até agora, o grupo estava sendo acompanhado pela central sindical uruguaia PIT-CNT, que emprestou um antigo casarão para alojá-los. Mas o espaço era pequeno e dois deles foram levados a um hotel, até que o Serviço Ecumênico para a Dignidade Humana (Sedhu) – uma organização dedicada a refugiados – assuma o caso deles e encontre um apartamento para cada um.
O sírio Jihad Diyab tem outras preocupações, além da saúde e de sua instalação no país. É o único do grupo que é casado. Um de seus filhos morreu há pouco mais de um ano, quando ele ainda estava em Guantánamo. Os outros três e a mulher fugiram da guerra na Síria para a Turquia, mas acabam de ser devolvidos a seu país e, segundo Diyab, correm risco de morrer. Ele pediu permissão para trazê-los ao Uruguai, mas ainda espera a resposta da Cruz Vermelha e a resolução de trâmites internacionais.
Ex-preso de Guantánamo mostra foto da visita que recebeu do ex-presidente Pepe Mujica Divulgação Agência Brasil
No mês passado, Diyab viajou de improviso a Buenos Aires, onde vestiu o uniforme laranja dos prisioneiros de Guantánamo para falar a um pequeno grupo de jornalistas de meios alternativos argentinos. Ele contou que foi torturado, que fez greve de fome e que processou o governo norte-americano, depois que os carcereiros enfiaram um tubo no seu nariz para alimentá-lo à força. Diyab (cuja mãe é argentina) pediu a Argentina que siga o exemplo do Uruguai e se ofereça para acolher os prisioneiros que continuam em Guantánamo – apesar da promessa de campanha do presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, de que iriá fechar a prisão em Cuba.
Tanto Diyab quanto o tunisiano Abdul Ourgi consideram que – apesar das boas intenções – a situação dos prisioneiros em Guantánamo é pior com Obama do que com seu antecessor, George Bush. “Antes, estavam começando a libertar muitos de uma só vez, mas com Obama estão liberando prisioneiros a conta-gotas”, disse Ourgi, durante a entrevista à Agência Brasil.
De todos os ex-prisioneiros no Uruguai, Ourgi seria o mais perigoso, na avaliação do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Ele é citado como um “expert em explosivos”, que teria conhecido Osama Bin Laden e recebido, com antecedência, informações sobre seus planos para atacar as torres do World Trade Center. Ourgi sorri quando vê o documento: diz que perdeu um pedaço do polegar e tem cicatrizes no corpo, porque estava nas montanha afegãs, bombardeadas pelos norte-americanos, que queriam destruir o quartel-general do grupo terrorista Al Qaeda. “Mas o resto do que contam não é verdade”, garante. “A prova é que o próprio [ex-presidente do Uruguai] Jose Pepe Mujica contou que recebeu um documento do governo dos Estados Unidos, assegurando que nenhum dos ex-prisioneiros no Uruguai é terrorista ou representa ameaça.”
Mujica fez uma visita de surpresa à casa do PIT-CNT, poucas semanas antes de concluir seu mandato presidencial, no dia 1º de março. “Ele nos contou que foi guerrilheiro tupamaro, que esteve preso 13 anos e que passou dez deles isolado em um poço”, conta Ourgi. O tunisiano, de 49 anos, assistiu pela televisão à cerimônia de posse do sucessor de Mujica, Tabaré Vázquez. “Vi um presidente entregando o poder a outro, sem problemas. Não é como nos países árabes, onde quem chega ao poder acaba ficando dez, 20, 30 ou até 40 anos.”
Ourgui esteve no Brasil por algumas horas. Foi durante uma recente excursão a Chuí, uma cidade uruguaia na fronteira. “Cruzamos a rua para o Brasil, mas não fomos longe – ainda assim deu para perceber que [a vida no] Brasil é mais barata que no Uruguai”, disse.
Ter como se sustentar é o que preocupa Ourgi agora. “Durante 13 anos, eu só pensava em sair de Guantánamo – agora, tenho que me preocupar com a comida, a roupa, as contas, em um país caro”. Ele gostaria de trabalhar de cozinheiro – e quem sabe, no futuro, abrir um restaurante árabe. “Mas não é tão fácil quanto parece – 90 dias são pouco tempo para se acostumar à liberdade, se recuperar de Guantánamo e buscar emprego”, disse. “Mas não podemos ficar sem trabalhar, porque recebemos 15 mil pesos uruguaios [R$ 1,7 mil], o que é pouco em relação ao custo de vida uruguaio”, disse. Se tudo der certo, Ourgi quer trazer ao Uruguai a mãe – que não vê há 25 anos.
Zuenir Ventura toma posse na Academia Brasileira de Letras
Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil Edição: Fábio Massalli
Zuenir Ventura tomou posse da Cadeira 32 da Academia Brasileia de LetrasArquivo/Agência Brasil
O jornalista e escritor mineiro Zuenir Ventura tomou posse na noite de hoje (6) na Cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL), sucedendo ao dramaturgo, poeta e romancista Ariano Suassuna, que morreu no dia 23 de julho de 2014. A solenidade foi no tradicional prédio da ABL, o Petit Trianon, e reuniu artistas, intelectuais e jornalistas.
No discurso de posse Zuenir Ventura fez uma relação entre a chegada dele à ABL e a de Ariano Suassuna e da emoção de se tornar imortal. “No seu discurso de posse em 9 de agosto de 1990, Ariano revelou que, desde menino, sabia que um dia chegaria aqui como imortal, ao contrário de mim, que jamais sonhei em alcançar essa glória. Pode-se então imaginar a emoção deste filho e ajudante de um pintor de parede, em estar sendo acolhido neste templo do saber com tanta estima e consideração”.
Zuenir destacou ainda que conheceu os personagens de O Auto da Compadecida, escrito por Ariano, antes de ser apresentado ao romancista. Para Zuenir, a obra do escritor paraibano é um marco no teatro brasileiro. “Por sua excelência artística, [O Auto da] Compadecida significou uma vitória contra o preconceito social vigente de que os valores rurais representavam o atraso. Em plena era JK, naquele clima de efervescência cosmopolita que gerou a Bossa Nova, o Cinema Novo, a nova arquitetura, o Teatro de Arena, a Poesia Concreta, o distante sertão nordestino trazido por Suassuna para o Sudeste representou um marco no teatro brasileiro”.
O jornalista e escritor mineiro concluiu o discurso de posse dizendo que Ariano, embora tratasse do tema da morte em suas obras, não gostaria de morrer. “Apesar da relação amistosa que manteve com a Caetana [como o escritor chamada a morte em suas obras] em sua obra, Ariano não queria morrer. Ele acreditava que a literatura era uma maneira de protestar contra a morte, uma forma precária, mas, ainda assim, poderosa de afirmar a imortalidade. ‘O homem não nasceu pra morte’, afirmava [Ariano], ‘o homem nasceu para a vida e para a imortalidade’. Exatamente como ele, sertanejo universal, Ariano Vilar Suassuna genial”.
Coube à acadêmica, professora e escritora Cleonice Berardinelli fazer, em nome da instituição, o discurso de recepção de Zuenir, eleito no dia 30 de outubro do ano passado. Cleonice lembrou que, além dele, foi professora de quatro outros imortais – Ana Maria Machado, Antônio Carlos Secchin, Domício Proença Filho e Afonso Arinos de Melo Franco. A Divina Cléo, chamada assim pelo jornalista em uma crônica publicada em jornal, conforme indicou no discurso, disse que a ida de Zuenir para a Academia representa mais um motivo para estarem juntos.
“E eu lhe desejo, Zuenir, todas as felicidades do mundo dentro desta nossa Academia, onde você agora se torna meu confrade, meu confrade dileto, que, além de tudo, integra o grupo dos meus ex-alunos. Bem vindo, Zuenir! E, relembrando versos muito conhecidos do velho amigo Manuel Bandeira, um confrade que aqui nos precedeu, digo convicta: Entre, Zuenir, você não precisa pedir licença!”, desejou a acadêmica e ex-professora.
Em seguida, o presidente da ABL, Geraldo Holanda Cavalcanti, convidou o decano Eduardo Portella para a cerimônia de entrega da espada. A aposição do colar foi feita pelo acadêmico Merval Pereira e a entrega do diploma pelo acadêmico Domício Proença Filho.
Zuenir Ventura tem 83 anos e é casado com Mary Ventura há 51. O casal tem dois filhos, Elisa e Mauro. O imortal é bacharel e licenciado em letras neolatinas, jornalista, ex-professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
A Cadeira 32 tem fundador o jornalista, professor e poeta Carlos de Laet e tem como patrono o poeta, professor, jornalista, diplomata e teatrólogo Araújo Porto-Alegre. Depois foi ocupada por Ramiz Galvão, Viriato Correia, Joracy Camargo, Genolino Amado e Ariano Suassuna.
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