"Fora Dilma!' "Fora PT e leve o Lula com você!" - slogans bradados em 15 de março e que devem ser repetidos em 12 de abril!
Sendo o autor Demétrio Magnoli temos de levar em consideração a sua análise.
Só a Dilma não se olha no espelho.
Como
já disse um comediante, se ela passar em frente a uma obra, não serão
os pedreiros que mexerão com ela, será ela que mexerá com eles...
Ninguém quer saber desse traste...
Lúcio
O IMPEACHMENT SILENCIOSO
Demétrio Magnoli
FSP, 280315
A presidente Dilma Rousseff perdeu a legitimidade concedida pelos eleitores. Seu governo já terminou
Dilma Rousseff "está numa armadilha", diagnosticou FHC à Folha
(26/3). "Ela não tem
o que fazer. O que tinha, já fez: nomeou o Levy. E isso só aumenta a
armadilha, porque agora ela não pode demitir. É refém dele." O
diagnóstico está certo, mas ilumina só um terço do cenário. A presidente
é refém, igualmente, do PMDB (de fato, do trio Renan
Calheiros/Eduardo Cunha/Michel Temer) e do lulopetismo (de fato, de Lula
e dos movimentos sociais que operam ao redor dele).
Numa
entrevista ao "Estadão", Eduardo Graeff explicou que o governo Dilma
"chegou ao fim". É verdade: imobilizada na armadilha triangular, sem
"credibilidade"
nem "capacidade de ação política" (FHC), Dilma reduziu-se a "uma
assombração política" (Graeff). Já aconteceu um impeachment tácito,
informal.
Levy é
proprietário da credibilidade econômica. O ministro funciona como uma
delgada película que separa a economia de um catastrófico rebaixamento
pelas agências de rating. Dilma não pode demiti-lo pois,
sem a promessa do ajuste fiscal que ele personifica, o país seria
tragado no vórtice da fuga de capitais. Mas, como registrou FHC, "a
racionalidade econômica pura esmaga tudo" --ainda mais, acrescente-se,
quando essa "racionalidade" está contaminada pelo dogma
ideológico do equilíbrio fiscal a qualquer custo. O ajuste sem reformas
estruturais de Levy, complemento simétrico da farra fiscal de Mantega,
não serve ao país, mas conserva no Planalto a "assombração" de uma
presidente sem poder.
O trio
peemedebista é proprietário da maioria no Congresso, que hoje se forma
pela oscilação do PMDB entre o governo e a oposição. Dilma não pode
confrontá-los, pois eles empunham o sabre do impeachment
formal e o fazem girar, sadicamente, em torno do pescoço da presidente.
O
jogo da chantagem, uma norma do nosso doentio "presidencialismo de
coalizão", atinge níveis agônicos. Os chefões do PMDB utilizam esse
poder extraordinário
em nome dos seus próprios interesses, desenhando a reforma política que
lhes convêm e articulando com o governo os acordos de leniência
destinados a resgatar as empreiteiras do "petrolão".
Lula, com seu
cortejo de movimentos sociais (CUT, a UNE, o MST), é proprietário da
sustentação partidária de Dilma. O candidato declarado às eleições de
2018 pode cortar, num momento conveniente, o tubo
do regulador que ainda fornece ar comprimido ao fantasma do Planalto. Os
andrajos da autonomia da presidente, que atendem pelos nomes de Aloizio
Mercadante, Miguel Rossetto e Pepe Vargas, já foram descartados no
cesto de roupa suja.
Nas ruas, dia 7, repetindo o dia 13, o "exército" de
Lula,
força mercenária em declínio, não oferecerá um contraponto impossível às
manifestações anti-Dilma, mas cobrará novos gestos de submissão da
"companheira". Eles exigem iniciativas simbólicas
(e verbas publicitárias sonantes), destinadas a compensar a militância
pela dores do apoio ao ajuste fiscal.
No
presidencialismo, o chefe de Estado não pode tudo --mas tem o poder de
determinar os rumos estratégicos do governo. A legitimidade emanada do
voto popular é o ativo intangível que proporciona ao presidente
o poder de contrariar interesses entranhados no sistema político. FHC
confrontou o conjunto da elite política ao estabelecer a Lei de
Responsabilidade Fiscal.
No seu primeiro
mandato, Lula confrontou o PT ao conservar o tripé da estabilidade
macroeconômica herdado de seu antecessor. Capturada na teia da mentira,
Dilma perdeu a legitimidade concedida pelos eleitores.
Sem o rito da denúncia, processo e julgamento, a presidente sofreu um
impeachment silencioso.
Assombrado pela
figura errante da presidente destituída, o Planalto está entregue ao
triângulo de beneficiários do impeachment silencioso, que agem em
direções diferentes, sob motivações distintas. O desgoverno
não pode perdurar por quatro anos.
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