Vivemos na era do excesso de opções: são inúmeros os
modelos de carros, celulares, pratos no cardápio, restaurantes para
frequentar, possibilidades de carreira e até cortes de calça jeans para
escolhermos. O poder de exercer a escolha e a personalização são os
grandes valores por trás desse fenômeno.
Que mal pode haver, certo?
A corrente econômica comportamental aponta para uma ideia diferente: a de que manter todas essas alternativas vivas tem sim um custo - e ele pode ser muito maior do que imaginamos.
O economista Dan Ariely conta uma história interessante, a do comandante chinês Xiang Yu, que, em 210 a.C, resolveu motivar as suas tropas de uma forma inusitada. Na manhã seguinte à travessia do rio Yangtze durante o ataque à dinastia Qin, seus soldados acordaram e descobriram que suas embarcações estavam pegando fogo.
Inicialmente, pensaram que estavam sendo atacados e correram para se defender, para então descobrir que foi o próprio Xiang que iniciou o incêndio - e também destruiu as panelas das tropas.
O comandante explicou que sem as panelas e os navios, as tropas não teriam opção: ou venciam a guerra, ou morriam. Não existia nenhuma rota de fuga. O resultado foi imediato: as suas tropas venceram nove batalhas consecutivas e destruíram as forças da dinastia.
A ação parece radical, mas ela tem seu sentido. Sem os barcos, Xiang não precisava manter alguns soldados cuidando das embarcações - e de tantas outras tarefas relacionadas. Todos estavam dedicados, de corpo e alma, ao objetivo comum do grupo.
Para os amantes da música popular brasileira, a canção "Eu te Amo" de Tom Jobim e Chico Buarque também faz uma referência parecida:
"Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir"
E quantas vezes não fazemos igual aos soldados de Xiang, que dariam tudo para manter as portas abertas? No lugar dos navios de guerra, pense em um plano B para a sua carreira, na garantia estendida para o seu smartphone ou em um tablet que tem mais funções do que você precisaria. São todas alternativas que gostamos de manter, no caso de precisarmos dela ou querermos mudar de ideia.
O problema é que todas as alternativas que gostamos de manter têm seu custo - e muitas vezes ficamos cegos a ele, pelo medo de ficarmos sem uma saída alternativa. Pode ser o preço da garantia extra ou a diferença de valor para um tablet mais simples, até o risco de não se dedicar tanto ao seu trabalho quanto você poderia.
Na próxima vez que perceber que vai tomar uma decisão motivado pela angústia de poder precisar daquilo em um futuro próximo, avalie se não existe um custo (monetário ou emocional) grande para manter uma porta aberta, através da qual você talvez nem queira passar.
Post em parceria com Carolina Ruhman Sandler, jornalista, fundadora do site Finanças Femininas e coautora do livro "Finanças femininas - Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus sonhos" (Saraiva). Fonte: Folha Online - 19/03/2015 e Endividado
Que mal pode haver, certo?
A corrente econômica comportamental aponta para uma ideia diferente: a de que manter todas essas alternativas vivas tem sim um custo - e ele pode ser muito maior do que imaginamos.
O economista Dan Ariely conta uma história interessante, a do comandante chinês Xiang Yu, que, em 210 a.C, resolveu motivar as suas tropas de uma forma inusitada. Na manhã seguinte à travessia do rio Yangtze durante o ataque à dinastia Qin, seus soldados acordaram e descobriram que suas embarcações estavam pegando fogo.
Inicialmente, pensaram que estavam sendo atacados e correram para se defender, para então descobrir que foi o próprio Xiang que iniciou o incêndio - e também destruiu as panelas das tropas.
O comandante explicou que sem as panelas e os navios, as tropas não teriam opção: ou venciam a guerra, ou morriam. Não existia nenhuma rota de fuga. O resultado foi imediato: as suas tropas venceram nove batalhas consecutivas e destruíram as forças da dinastia.
A ação parece radical, mas ela tem seu sentido. Sem os barcos, Xiang não precisava manter alguns soldados cuidando das embarcações - e de tantas outras tarefas relacionadas. Todos estavam dedicados, de corpo e alma, ao objetivo comum do grupo.
Para os amantes da música popular brasileira, a canção "Eu te Amo" de Tom Jobim e Chico Buarque também faz uma referência parecida:
"Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir"
E quantas vezes não fazemos igual aos soldados de Xiang, que dariam tudo para manter as portas abertas? No lugar dos navios de guerra, pense em um plano B para a sua carreira, na garantia estendida para o seu smartphone ou em um tablet que tem mais funções do que você precisaria. São todas alternativas que gostamos de manter, no caso de precisarmos dela ou querermos mudar de ideia.
O problema é que todas as alternativas que gostamos de manter têm seu custo - e muitas vezes ficamos cegos a ele, pelo medo de ficarmos sem uma saída alternativa. Pode ser o preço da garantia extra ou a diferença de valor para um tablet mais simples, até o risco de não se dedicar tanto ao seu trabalho quanto você poderia.
Na próxima vez que perceber que vai tomar uma decisão motivado pela angústia de poder precisar daquilo em um futuro próximo, avalie se não existe um custo (monetário ou emocional) grande para manter uma porta aberta, através da qual você talvez nem queira passar.
Post em parceria com Carolina Ruhman Sandler, jornalista, fundadora do site Finanças Femininas e coautora do livro "Finanças femininas - Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus sonhos" (Saraiva). Fonte: Folha Online - 19/03/2015 e Endividado
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