por EDMAR BACHA
Podemos reparar que quase tudo em nossas casas é feito no Brasil: material de construção, móveis, eletrodomésticos, roupas, comida.
O raro produto importado é comprado a preços surreais. Isso nos parece natural. O espanto ocorre quando viajamos ao exterior e nos deparamos, nas lojas dos EUA e da Europa, com a grande quantidade de produtos fabricados em outros países e com a ausência quase completa de produtos made in Brazil.
Como me disse minha neta Luiza, de nove anos, em sua primeira viagem a Nova York: "Vovô, aqui tudo é bom e barato. Por que não é assim também no Brasil?".
Dedico a ela este texto, na expectativa de que o possa ler daqui a alguns anos com a mesma perplexidade com que os jovens hoje em dia nos escutam contar como era a hiperinflação antes do Real.
Robert Solow, Prêmio Nobel de Economia, é seguramente um dos economistas mais admirados do mundo. Em entrevista recente, disse não acreditar na estagnação da economia mundial.
E explicou: "A chave são economias como a Rússia, a Índia, a China, o Brasil. Nelas, as indústrias ainda têm que se modernizar para chegar ao nível de avanço tecnológico em que a Europa e a América do Norte já estão. Temos que esperar que essa convergência ocorra. Se não ocorrer, será provavelmente por razões políticas, e não por razões econômicas. Deixando a política de lado, sobre a qual é difícil dizer qualquer coisa inteligente, há ainda muito espaço para essa modernização".
Infelizmente, no Brasil não podemos deixar a política de lado, pois são inúmeros os impedimentos que ela coloca para a modernização. Eles incluem absurdos como a nomeação para ministro da Ciência e Tecnologia do ex-deputado Aldo Rebelo, que apresentou projeto de lei para proibir a adoção de novas tecnologias no setor público. Passam pela bizarrice da tomada de três pontos. E atingem o trágico com os escândalos em série na Petrobras, que revelam o extraordinário poder corruptor de uma política industrial baseada no monopólio estatal, na reserva de mercado e no conteúdo nacional.
São exemplos extremos de políticas de isolamento do país ao comércio internacional, que também se expressam na ausência de acordos comerciais com os países desenvolvidos, na atração das multinacionais para explorar o mercado interno, mas não para exportar a partir do Brasil, na paralisante burocracia portuária e alfandegária, nas altas tarifas aos importados, nas exageradas margens de preferência para as compras governamentais de produtos locais, nas políticas de adensamento produtivo (nome novo para a velha substituição de importações).
Disso tende a resultar uma taxa de câmbio supervalorizada que dificulta ainda mais as exportações e reduz a competitividade dos produtores brasileiros. Paradoxalmente, essa supervalorização fornece justificativa para o próprio protecionismo que está na raiz do câmbio valorizado.
Quando expressa sua confiança em que os emergentes atingirão o nível de renda per capita dos países hoje desenvolvidos, Robert Solow nos fala dos benefícios da interconexão entre as economias.
Da maior importância para o crescimento da produtividade nesses países são o acesso a novas tecnologias, produtos e insumos, as economias de escala que se obtêm num mercado ampliado e as reduções de custo que resultam da maior concorrência entre as empresas.
Não se trata apenas de teoria. Os países que conseguiram entrar para o Primeiro Mundo após a Segunda Guerra Mundial o fizeram com uma forte integração comercial com os países mais ricos.
Foi esse o caso de Israel e dos tigres asiáticos (Coreia do Sul, Cingapura, Hong Kong e Taiwan), cuja integração se baseou na exportação de produtos industriais.
Foi esse o caso da periferia da Europa (Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda), com exportações predominantemente de serviços. Foi esse também o caso da Austrália, da Nova Zelândia e da Noruega, cujas exportações são principalmente de produtos primários.
Não se conclua que o comércio internacional só beneficia países pequenos. Há também o exemplo da China, que renasceu a partir da década de 1980 com a decisão de Deng Xiaoping de abandonar o isolacionismo maoista e abrir o país para o comércio e o investimento estrangeiro.
Em contraste, o Brasil se mantém como uma das economias mais fechadas ao comércio internacional. Somos o último da fila, com a menor participação do comércio exterior no PIB entre os 179 países para os quais o Banco Mundial tem dados.
Não é porque sejamos um país grande. Os seis países maiores (EUA, China, Alemanha, Japão, França e Reino Unido) são também os seis maiores exportadores. O Brasil é apenas o 22º maior exportador. Temos 3,3% do PIB mundial, mas nossas exportações representam apenas 1,3% do total mundial.
Caso exemplar é a indústria automobilística brasileira. Protegida há seis décadas, mal exporta para nossos vizinhos. Em contraste, fábricas mexicanas, que produzem duas vezes mais por trabalhador, exportam para o lucrativo mercado americano e participam ativamente das cadeias globais de valor.
Com esse isolamento comercial, não é de estranhar que, além de baixa, a produtividade cresça pouco. Nos últimos 33 anos, a produtividade do trabalho no Brasil cresceu um minúsculo 0,3% ao ano, nos condenando a permanecer como um país de renda média. Enquanto isso, os demais emergentes vão nos ultrapassando, um a um.
Em entrevista recente, Ricardo Paes de Barros, ex-subsecretário da Secretaria de Assuntos Estratégicos, diz: "São mais de 500 políticas voltadas a elevar a produtividade...Então, não é falta de política, é preciso analisar melhor por qual motivo essas políticas não estão tendo o impacto que gostaríamos que elas tivessem".
A razão parece clara diante do que expus. As empresas no Brasil não têm motivos para aumentar a produtividade. Por um lado, são forçadas a comprar localmente insumos caros e obsoletos. Por outro, vendem seus produtos quase que só dentro do país, em mercados protegidos e com diminuta concorrência. Por isso o Brasil cresce tão pouco em relação a outros emergentes.
Fonte: Folha Online - 22/02/2015 e Endividado
Crise pós-Lava Jato paralisa obras de R$ 5 bi e causa demissões de 7.000
por FELIPE BÄCHTOLD
Atrasos em projetos, demissões e incerteza marcam a rotina de cidades pelo país que tiveram rápido crescimento com a instalação de estaleiros voltados à produção para a Petrobras.
Mas a crise nas empreiteiras afetadas pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, ameaça agora as promessas de desenvolvimento econômico acelerado.
Em três Estados –Rio Grande do Sul, Bahia e Espírito Santo–, os investimentos somam pelo menos R$ 5 bilhões e, em dois deles (Bahia e Rio Grande do Sul), o total de demissões chega a 7.000, segundo os sindicatos de trabalhadores.
Com economia modesta até 2006, Rio Grande, município de 207 mil habitantes no litoral gaúcho, conheceu o status de polo econômico do Estado após o início da construção de plataformas e módulos para a Petrobras a partir de 2006.
Shoppings foram erguidos e a construção civil passou por um boom, mas após a Lava Jato, o cenário se deteriorou rapidamente.
O sindicato dos metalúrgicos estima que foi demitida metade da força de trabalho da empreiteira Engevix, empresa que teve o vice-presidente preso na operação e que tinha sido contratada pela Petrobras para construir cascos para plataformas.
Empresas terceirizadas reclamam de dívidas pendentes e também demitem –ao todo, o sindicato fala em 2.500 cortes. Aos operários dispensados restou procurar emprego no comércio local. Mas os lojistas também dizem enfrentar reflexos da situação e queda nas vendas.
Na última quinta-feira (12), uma série de protestos foi promovida pelo sindicato dos metalúrgicos na cidade, com o fechamento de rodovias e greve de ônibus.
A incerteza também paira sobre dois projetos que seriam a base da economia local nos próximos anos: a construção das plataformas P-75 e P-77 por um consórcio liderado pela Queiroz Galvão. O início dos trabalhos vem sendo adiado sucessivamente desde 2013 e não há uma garantia de quando sairá do papel.
MEGA SEM O PRÊMIO
Na Bahia, o cenário também é de insegurança no estaleiro em Maragogipe, cidade de 46 mil habitantes a 130 km de Salvador. Os trabalhos no complexo são em duas frentes: na construção da estrutura do estaleiro e também na montagem de sondas de perfuração. O investimento previsto no local era de R$ 2,7 bilhões.
Nos últimos meses, segundo informações do próprio consórcio responsável, 4.500 pessoas foram demitidas no complexo, tanto na obra física quanto na área das sondas.
Os equipamentos tinham sido encomendados pela Sete Brasil, parceira da Petrobras e investigada na Lava Jato. O consórcio é composto por empresas como a OAS e UTC Engenharia –também envolvidas na operação.
O sindicato dos trabalhadores fala que há um risco de a obra virar um "elefante branco".
"A cidade passou 50 anos sem esperanças até a chegada do estaleiro. Agora, é como alguém que ganhou na Mega Sena e não recebeu o prêmio", diz o secretário municipal Gilberto Sampaio.
No Espírito Santo, a crise da Sete Brasil também atrapalha o início das atividades de um complexo criado para a construção de navios-sonda. O estaleiro, administrado pela empresa de Cingapura Jurong, levou o município de Aracruz a se tornar um dos que mais geraram empregos na indústria no país em 2014.
No começo do mês, o responsável pela operação da companhia na América do Sul, Martin Cheah, disse ao jornal "Valor Econômico" que o atraso nos pagamentos da Sete Brasil provocaria demissões e obrigaria sua empresa a ir à Justiça.
Procurada pela Folha, a Jurong informou apenas que as atividades estão normais e que não faz comentários sobre inadimplência. Já a Petrobras disse que está em dia com suas obrigações e que os pagamentos às empresas continuam de acordo com o que tinha sido estabelecido nos contratos. Mas afirmou também que "revê sistematicamente" projetos em andamento como forma de preservar o caixa e viabilizar seus investimentos.
A VISÃO DAS EMPRESAS SOBRE A CRISE
A Sete Brasil informou que trabalha para concluir a contratação de linhas de crédito junto ao BNDES e que está "o tempo todo" em negociação com os estaleiros. Afirmou ainda que o seu plano de construção de 29 sondas em cinco diferentes complexos do país deve gerar 120 mil empregos diretos e indiretos.
O consórcio Enseada, que atua em Maragogipe, afirma que a indústria naval atravessa um período de "dificuldade" e que o complexo passou por um "desaquecimento" em seu processo de construção. Mas diz que as encomendas seguem sendo montadas e que o investimento é um dos maiores da Bahia nos últimos anos.
A Engevix nega que tenha ocorrido "demissão em massa" no estaleiro de Rio Grande. Diz que a construção dos cascos de plataformas segue etapas que "exigem um número maior ou menor de funcionários" e que as "movimentações de pessoal" estão ligadas a esse processo. Também afirmou que um dos projetos já foi concluído no ano passado e que outros dois estão com mais de 75% prontos.
Fonte: Folha Online - 20/02/2015 e Endividado
Em relação à matéria veiculada pelo Fantástico na noite deste domingo sobre a Operação Sinal Fechado, deixo claro que desconheço o teor da suposta acusação de que sou vítima.
Estaria eu sendo acusado pelo suposto delator de fatos que ele próprio, recente e voluntariamente, contestou e negou em testemunhal registrado em cartório no Rio Grande do Norte?
Estaria eu sendo objeto de denúncia de igual teor à que a Procuradoria Geral da República já teria apurado e arquivado?
... Ver mais
Vemos nessa foto a primeira médica cubana com superpoderes!
Kenia Rivero Martinez está auscultando o paciente com o estetoscópio fora das orelhas!
Ela veio da a...
Fundo do FGTS tem na Lava Jato mais de R$ 11 bilhões aplicados
O fundo FI-FGTS, que utiliza uma fatia de recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) do conjunto de trabalhadores, tem mais de R$ 11 bilhões aplicados em empresas citadas na operação Lava Jato.
É mais de um terço do total de R$ 32 bilhões de recursos do fundo, que foi criado para investir em projetos de infraestrutura.
"A maioria das empresas desse setor [infraestrutura] estão na operação Lava Jato; é natural que seus projetos façam parte de um fundo com foco em infraestrutura", disse Marcos Vasconcellos, vice-presidente da Caixa. O banco é responsável pela gestão do FGTS e do FI-FGTS.
O maior investimento é em R$ 2,378 bilhões em debêntures (títulos de dívida de longo prazo) da Sete Brasil, fornecedora de navios plataformas e sondas para exploração da Petrobras no pré-sal.
O fundo também têm R$ 2,379 bilhões em ações da Odebrecht TransPort, e outro R$ 1,079 bilhão na Odebrecht Ambiental, ambas empresas de capital fechado do grupo Odebrecht.
O investimento mais arriscado até o momento é na OAS Óleo e Gás, em que o FI-FGTS tem R$ 800 milhões. O grupo atrasou pagamentos e deve pedir recuperação judicial nas próximas semanas.
Segundo Vasconcellos, o escândalo ainda não trouxe perdas ao fundo, que rendeu 7,71% em 2014.
O executivo afirmou que o FI-FGTS têm mais de R$ 10 bilhões em caixa para investir em projetos de infraestrutura. No entanto, teve de reduzir o apetite devido ao risco crescente das empreiteiras.
"Estamos esperando que novos players [empresas] voltem a participar da infraestrutura", disse.
O governo e a CVM estudam abrir o FI-FGTS para que os trabalhadores apliquem seu dinheiro como fizeram com ações da Vale e da Petrobras.
Fonte: Folha Online - 23/02/2015 e Endividado
Fundos somam R$ 9 bilhões em papéis afetados pela crise da Petrobras
por RENATA AGOSTINI e TONI SCIARRETTA
Os fundos de investimento tinham pelo menos R$ 9 bilhões em papéis diretamente ligados à Petrobras e aos seus fornecedores, incluindo empresas citadas na Lava Jato, no final de janeiro.
São aplicações que surgiram no período de pujança financeira da Petrobras, mas que agora tornaram-se sensíveis a eventuais atrasos nos pagamentos tanto da Petrobras quanto de sua cadeia de fornecedores.
Editoria de Arte/Folhapress
Também têm sofrido com os recentes rebaixamentos de avaliação das agências de risco. Quando isso ocorre, o valor de um título deve ser revisto para baixo, implicando em perdas para os cotistas.
O levantamento, baseado em dados da consultoria Economatica, considerou quanto os fundos possuem em debêntures (dívidas de longo prazo) e participações das empreiteiras, além do adiantamento de recursos que os fornecedores receberão da estatal (chamados recebíveis) e de papéis baseados em imóveis que a estatal aluga.
O montante dobra se incluir também os recebíveis que não foram para os fundos, mas ficaram nos bancos. A Petrobras coordena um programa chamado Progredir, que viabilizou o adiantamento de R$ 9,4 bilhões em recebíveis desses fornecedores.
A situação mais delicada é a de 217 fundos que somam R$ 7,3 bilhões em dívida e participações em empreiteiras acusadas de pagar propina para conseguir contratos na Petrobras.
Elas foram banidas da lista de fornecedores da estatal e várias enfrentam problemas de caixa. Em dezembro, esses fundos tinham mais: R$ 7,8 bilhões. O recuo deve-se tanto a resgates quanto à desvalorização nas cotas.
A maioria desses fundos é voltada a grandes investidores, como outros fundos de investimento ou de pensão, e muitos têm como cotista o próprio banco gestor.
O maior temor dos cotistas é que essas empresas peçam recuperação judicial. Uma vez aceito o pedido, os pagamentos são suspensos e o fundo entra na fila como credor para receber da empresa.
Só a Caixa Econômica Federal tem sob gestão R$ 3,8 bilhões, espalhados em 15 fundos. A Caixa afirma que esses fundos não são oferecidos a clientes, sendo que dois deles concentram R$ 3 bilhões e têm como cotista a empresa emissora da dívida.
Há ainda no mercado cerca de R$ 1,2 bilhão em papéis cujo risco está ligado a imóveis alugados pela Petrobras –os CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários).
Com a piora da situação financeira da empresa, aumentou a chance de que haja calote nestes pagamentos. No final de janeiro, a Moody´s rebaixou algumas séries desses títulos emitidos pela RB Capital e avisou que outros rebaixamentos podem vir.
Os fundos formados para reunir os recebíveis de fornecedores da Petrobras –FIDCs (Fundos de Investimento em Diretos Creditórios)– reúnem hoje R$ 38 milhões, mas o valor já foi muito maior.
As aplicações encolheram diante do temor de gestores de que os fornecedores não finalizassem as obras.
Nesse caso, as perdas iniciais são da Petrobras (que também é cotista) e depois dos demais aplicadores.
A Plural Capital, que lançou um fundo de R$ 300 milhões há cerca de quatro anos, é uma das que decidiu devolver o dinheiro dos cotistas e irá encerrar o fundo.
"Uma coisa é fomentar um mercado sadio. Se o clima não está bom para o fornecedor, não está para o produto", diz Humberto Tupinambá, gestor de fundos do setor de óleo e gás da instituição.
Fonte: Folha Online - 23/02/2015 e Endividado
Nenhum comentário:
Postar um comentário