sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

''Somos todos americanos'' – Estados Unidos e Cuba voltam a ter relações após 53 anos

 É o início do fim do embargo econômico. O presidente Barack Obama e o ditador Raúl Castro anunciaram ontem o restabelecimento das relações de Estados Unidos e Cuba. O embargo comercial ao país caribenho, no entanto, permanecerá, mas poderá acabar logo. As medidas incluem ações como instalação de uma embaixada americana em Havana e a revisão da designação dada pelos Estados Unidos a Cuba de “Estado que patrocina o terrorismo”. Obama também disse que espera um debate sério no Congresso americano para que levante o embargo que o país mantém a Cuba, que proíbe a maioria das trocas comerciais. Os dois países não se relacionavam desde 1962 – mantendo apenas seções de interesse de nível menor desde 1977.

Obama disse que a normatização das relações com Cuba encerram uma “abordagem antiquada” da política externa americana. O presidente americano afirmou acreditar que os Estados Unidos poderão “fazer mais para ajudar o povo cubano” ao negociarem com o governo da ilha. Ele usou uma frase em espanhol durante o discurso: “Todos somos americanos”.

Em Havana, Raúl Castro confirmou o retorno das relações diplomáticas e disse que quer restabelecer os vínculos, especialmente no que se refere a viagens, correio postal direto e telecomunicações. “Exorto o governo dos Estados Unidos a remover os obstáculos que impedem os vínculos entre nossos povos”, disse Castro. Obama e Castro mencionaram o papel do papa Francisco e do Canadá em facilitar as negociações entre os dois países.

Dilma elogia anúncios de Castro e Obama

Paraná – A presidente Dilma Rousseff elogiou ontem o anúncio da retomada das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba após participar da Cúpula do Mercosul, em Paraná (Argentina). “Acredito que isso é um marco nas relações da nossa região, mas sobretudo do mundo. A possibilidade de relacionamento, o fim do bloqueio, o fato de Cuba ter hoje condições plenas de conviver na comunidade internacional é extremamente relevante para o povo cubano e, acredito, para toda a América Latina”, disse.


Esta decisão do presidente Obama merece o respeito do nosso povo”. Raúl Castro, Ditador Cubano.

Na mudança mais importante de nossa política, daremos ponto final ao obsoleto”. Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos.


Americanos e cubanos livres

Washington – Alan Gross, um americano de 65 anos, libertado ontem, após ter passado cinco anos em prisões cubanas, fez grande parte de sua carreira no âmbito da ajuda humanitária e desenvolvimento internacional. A medida inclui a retomada da diplomacia entre Estados Unidos e Cuba, que também teve a liberação de Gerardo Hernández, Ramón Labañino e Antonio Guerrero, que estavam nos Estados Unidos. A ação foi destacada no pronunciamento do ditador Raúl Castro.

Papa festeja no Vaticano

Cidade do Vaticano – O papa Francisco comemorou ontem, no Vaticano, o seu aniversário de 78 anos. Inúmeros casais dançaram tango na praça São Pedro como forma de homenagear o pontífice. No que se refere à retomada da diplomacia entre Estados Unidos e Cuba, Francisco expressou grande satisfação pela decisão histórica. Em comunicado, a Santa Sé confirmou que houve mediação pessoal do pontífice, e que ele teria enviado cartas para o ditador Raúl Castro e para o presidente Barack Obama. A nota também confirmou que o Vaticano recebeu delegações dos dois países no mês de outubro. Barack Obama agradeceu a mediação do papa Francisco durante o seu pronunciamento, no qual anunciou o início de um novo capítulo na relação entre Estados Unidos e Cuba. O papa Francisco designou ainda, nesta quarta-feira, oito novos integrantes da comissão contra a pedofilia na Igreja, que agora conta com um total de 17 especialistas.

Retomada das relações

O que foi

O presidente Barack Obama e o ditador Raúl Castro anunciaram o restabelecimento das relações dos Estados Unidos com Cuba.

Cuba libertou o prisioneiro americano Alan Gross e, em troca, três agentes da inteligência cubana que estavam presos nos Estados Unidos voltaram à ilha.

Medidas anunciadas

Restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países

Maior facilidade de viagens de norte-americanos a Cuba

Autorização de vendas e exportações de bens de serviços dos Estados Unidos a Cuba

Autorização para norte-americanos importarem bens de até US$ 400 de Cuba

Início de novos esforços para melhorar o acesso de Cuba a telecomunicações e internet

O embargo dos Estados Unidos contra Cuba

Existe de forma ampla desde 7 de fevereiro de 1962 e impede a maioria das trocas comerciais

Por meio de duas leis, uma de 1992 e outra de 1996, proíbe o envio de alimentos ao país caribenho (exceto em casos de ajuda humanitária)

Torna passível de punição judicial empresas nacionais e estrangeiras que tenham relações financeiras com a ilha

Limite de envio de remessas de dinheiro a partir dos Estados Unidos para o país caribenho foi revisto em 2009, o que permitiu uma injeção de dinheiro na ilha

Antes, os cubanos nos Estados Unidos podiam vigiar cuba apenas uma vez por ano e mandar apenas US$ 1,2 mil por pessoa, em dinheiro, para parentes necessitados

Cuba e Estados Unidos: aproximação histórica


Havana – Cuba e Estados Unidos decidiram, nesta quarta-feira, restabelecer relações diplomáticas rompidas desde 1961. O anúncio histórico foi feito, em pronunciamento, pelo presidente dos Estados Unidos e pelo ditador cubano. Castro havia conversado por telefone com Obama e acertado a retomada do diálogo. Ele lamentou apenas que Washington mantenha o bloqueio econômico contra Cuba, imposto em 1962.
A notícia também foi dada pelo presidente Barack Obama na Casa Branca. “Transmiti instruções ao secretário (de Estado John) Kerry para que ele inicie de imediato discussões com Cuba”, afirmou Obama. Em nota oficial, Kerry informou que a subsecretária para o Hemisfério Ocidental (América Latina e Caribe), Roberta Jacobson, viajará em janeiro a Cuba.
Já o ex-presidente americano Jimmy Carter afirmou sentir-se “encantado” com a decisão de Obama e se disse favorável a eliminar as sanções econômicas na ilha. “Espero que o Congresso (americano) dê os passos necessários para remover as sanções, medidas qe comprovadamente forma ineficazes”, citou.
A decisão foi comentada ainda pelo secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), o chileno José Miguel Insulza, que saudou o histórico anúncio. De acordo com Insulza, as iniciativas anunciadas “abrem uma via de normalização que não tem mais volta”. Ele pediu ao Congresso americano que adote “as medidas legislativas necessárias para suspender o embargo contra Cuba, que ainda está em vigor”.
A América Latina, ao final da 47ª cúpula, os presidentes do Mercosul saudaram o restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, classificando como uma “retificação histórica” pelo venezuelano Nicolás Maduro. “Estamos vivendo um dia histórico”, disse Maduro, gerando os aplausos dos presidentes reunidos na cidade argentina de Paraná, 500 km ao norte de Buenos Aires. Para Maduro, houve uma “vitória da moral, da ética, da lealdade e dos valores. Uma vitória de Fidel, histórica para o povo cubano.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, saudou calorosamente as decisões de Washington e Havana e ofereceu ajuda da ONU. “As Nações Unidas estão prontas para ajudar esses dois países a desenvolver suas relações de boa vontade”, afirmou Ban Ki-moon.
Em seus discursos, tanto Obama quanto Castro agradeceram ao papa Francisco pela ajuda que o pontífice deu no processo de aproximação dos dois países.


Fonte: Correio do Povo, capa e página 16, de 18 de dezembro de 2014.

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