sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Juiz aponta ′sanha criminosa′ de Cerveró ao tentar blindar patrimônio

O juiz que determinou a prisão do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró afirmou que o suspeito mostrou prosseguir com sua "sanha" criminosa ao tentar blindar seu patrimônio por meio da transferência de imóveis para familiares e do resgate de aplicações financeiras.

Cerveró foi preso nesta quarta-feira (14), no Rio, ao desembarcar de um voo vindo de Londres, onde estava desde dezembro. Depois ele foi encaminhado a Curitiba (PR), onde funciona o núcleo central da Operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras.

Ele deverá ficar sozinho numa cela na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, na mesma ala onde estão detidos o doleiro Alberto Youssef e o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, também alvos na Lava Jato.

A detenção do ex-diretor foi decretada pelo juiz Marcos Josegrei da Silva, que estava de plantão na Justiça Federal do Paraná no fim de ano. A decisão teve registro no dia 1º de janeiro, às 7h34. O magistrado titular da causa, Sergio Moro, está de férias.

Segundo o juiz plantonista, Cerveró, "mesmo após figurar como investigado em inquéritos policiais e denunciado em ação penal, prossegue sua sanha delitiva e, como sugere o MPF em sua promoção, parece mesmo não enxergar limites éticos e jurídicos para garantir que não sofra as consequências penais de seu agir, o que pode, no limite, transbordar para fuga pessoal caso perceba a prisão como uma possibilidade real e iminente".

O magistrado relatou que são fortes os indícios contra o ex-diretor da Petrobras.

De acordo com Silva, "as conclusões que decorrem desses fatos são evidentes e não exigem muito esforço hermenêutico: Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobrás, apontado pelo MPF em denúncia já recebida pela Justiça Federal como um dos principais articuladores e beneficiário de quantias estratosféricas a título de ′propinas′ pagas por fornecedores da Petrobras em troca de contratos com a estatal, ciente de que corre sério risco de ser responsabilizado criminalmente, inclusive com o ressarcimento dos danos a que deu causa, vem tentando blindar seu patrimônio capaz de ser, a curto prazo, rastreado no país, transferindo-o a pessoas de sua confiança".

"Isso, evidentemente, sem falar nos valores que provavelmente mantém em depósito em contas offshore fora do país que ainda não foram possíveis de serem identificadas e rastreadas", completou.

 Junior Pinheiro/Folhapress 
Nestor Cerveró chega à sede do IML em Curitiba para exames de corpo de delito
Após ser preso, Nestor Cerveró chega à sede do IML em Curitiba para exames de corpo de delito
PRISÃO

O delegado Igor Romário de Paula, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, afirma que Cerveró fez movimentações financeiras para conseguir dinheiro vivo, e que isso poderia indicar duas coisas: ou o ex-diretor planejaria uma fuga, ou tentaria tornar seu patrimônio mais líquido, e dessa forma, o blindaria.

A prisão teve como fundamento "alguns negócios que ele fez posteriormente à saída do Brasil, negócios que financeiramente eram inviáveis e que indicavam a tentativa de liquidar o patrimônio para enviar ao exterior ou aplicar em outros negócios", disse.

De acordo com ele, em 30 de dezembro o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) alertou a PF sobre a solicitação de Cerveró de resgate de uma operação ligada à previdência privada que inicialmente tinha valor de R$ 600 mil, mas que no momento registrava prejuízo de R$ 200 mil.

"As operações realizadas indicam que não é alguém preocupado com investimentos financeiros, mas alguém que estava tentando obter liquidez com rapidez. Poderia ser uma fuga ou tentativa de blindar o patrimônio que ainda não tenha sido bloqueado", disse o delegado.

OUTRO LADO

O advogado do ex-diretor, Edson Ribeiro, disse não haver razão para seu cliente estar detido e que, se a prisão fosse válida,"Graça Foster [presidente da Petrobras] também deveria ter tido a prisão decretada".

A presidente da estatal não é alvo de investigação na Lava Jato.

"Não estou imputando culpa a Graça Foster, mas, se o critério para a prisão de Cerveró foi ter transferido bens para filhos, o critério tem que valer para Graça, que também doou imóveis para os filhos. Ela também era da diretoria da Petrobras na época da compra dos 50% restantes da refinaria de Pasadena, assim como Cerveró era diretor na compra dos 50% iniciais. As decisões são tomadas pela diretoria. Se não vale para Graça, o Ministério Público está prevaricando."

"Não vejo motivos para sua prisão, uma vez que comuniquei à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal sua viagem e seu endereço no exterior", disse Ribeiro.


Fonte: Folha Online - 14/01/2015 e Endividado

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