Estaria
a ação dos terroristas contra o jornal Charlie Abdo inserida
naquilo que Samuel Huntington chamada de “o choque de
civilizações”? Afinal, o que se presencia hoje na Europa é uma
crescente aversão aos integrantes. E, em especial, anos de religião
muçulmana. A Alemanha fora palco há alguns dias de manifestações
nesse sentido. Na contrapartida, no entanto, aconteceram passeatas de
repúdio a essas marchas. Afinal, os alemães não querem reviver o
fantasma da intolerância que vigorou durante o regime nazistas.
A França
sempre se destacou por ser o país da tolerância e da liberdade de
expressão. Foi com base nisso que abriu suas fronteiras aos enormes
contingentes de refugiados das guerras que proliferam-se pelo mundo
árabe e pela África. Um contingente que hoje forma um percentual
significativo da população, a ponto de o escritor Michel
Houellebecq estar prevendo no seu romance “Submissão”, que em
2022 a França será governada por um muçulmano. Tal previsão aguça
a Islamofobia. Justo num momento em que o país se depara com mais um
ato de terror – ato este praticado por fundamentalistas islâmicos.
Porém, aí é que vem a confusão, porque os sentimentos se
misturam. E aquilo que é praticado por alguns fanáticos é
atribuído aos adeptos em geral da religião. E aí é que vem mais
um desafio para a França: fazer essa separação. O presidente
François Hollande procurou ser claro ao dizer que “a guerra é
contra o terrorismo e não contra uma religião”.
E o
terror, se quis provocar a divisão entre a população francesa, o
que viu foi uma união maior dessa população e das autoridades em
defesa dos princípios que regem o país: liberdade, igualdade,
fraternidade. E esse mesmo terror, que pensou ter destruído o jornal
Charlie Hebdo, verá o semanário sair na próxima quarta-feira com
uma tiragem de 1 milhão de exemplares.
No
entanto, é preciso considerar que o terror segue ativo. E, mais do
que nunca, o Ocidente não pode descuidar. O grupo Estado Islâmico
toma territórios do Iraque e da Síria, e a Al-Qaeda sedimenta sua
base no Iêmen, onde aliás, foi treinado um dos atacantes do jornal
francês. Assim, ao mesmo tempo em que tem que administrar os
conflitos internos entre a população local e a que veio de fora, o
país terá que se reestruturar para enfrentar a ameaça de
fanáticos.
Fonte:
Correio do Povo, página 5 de 11 de janeiro de 2015.
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