terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Ataque brutal à civilização, por Vilson Antonio Romero

Um dos mais brutais ataques à imprensa, dois policiais e dez profissionais do jornal satírico Charli Hebdo forma mortos nesta quarta-feira por três homens armados, na sede da publicação, situada no coração da capital francesa.
Nos irmanamos no pranto por mais estas perdas para a comunicação social. Lamentamos entre outras, as mortes do diretor Stephane Charbonnier, conhecido como Charb, e os membros do grupo de fundadores, Georges Wolinski e Jean Cabut, que assinava como Cabu, além o economista Bernard Maris, que colaborava com o jornal. Poderemos ter outras vítimas fatais, pois há dezenas de feridos, alguns em estado grave.
Esta bárbaro ato dá início a uma macabra contagem que penaliza os comunicadores a cada ano. Só em 2014, a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) registra 118 jornalistas e profissionais de mídia mortos em incidentes relacionados com o trabalho. O relatório da entidade contabiliza que mais 17 profissionais morreram em acidentes rodoviários e desastres naturais enquanto exerciam suas atribuições, contabilizando 135 vítimas fatais.
O maior perigo para o trabalho dos repórteres, pelo segundo ano consecutivo, se concentra na região da Ásia-Pacífico, que teve o maior número de óbitos, 35, seguida pelo Oriente Médio, com 31 mortes. As Américas, com 26 perdas, a África, 17 e a Europa com nove mortes violentas, fecham o ranking cruento da FIJ.
Mas o atentado em Paris ganha destaque pela violência, onde o número de mortes de profissionais supera, num único ataque, o quantitativo de perdas em todo o ano passado no continente europeu. Afora o evidente risco de exercer a profissão em áreas de conflito como Síria, Iraque, Ucrânia, Paquistão e Afeganistão, muito preocupam as entidades de classe as mortes ocorridas em regiões menos inóspitas como a América Latina.
Na lista ponteada pelo Paquistão, com 14 assassinatos de profissionais da mídia, figuram também as seis mortes ocorridas em Honduras e as cinco perdas mexicanas, decorrentes dos conflitos entre imprensa e o narcotráfico.
O Brasil não fica de fora. Perdemos no exercício da profissão, ao longo do ano passado, Santiago Ilídio Andrade, repórter cinematográfico da TV Bandeirantes, Pedro Palma, editor do Panorama Regional (Rio de Janeiro), e Geolino Lopes Xavier, apresentador da N3 TV, de Teixeira de Freitas (BA).
Enquanto medidas, as mais diversas, são tentadas em diversas nações buscando preservar a integridade física e a vida dos jornalistas, no Brasil medidas mais incisivas têm sido infrutiferamente reivindicadas.
Iniciativas como a federalização dos crimes contra a imprensa ou a instituição de um observatório que auxilie no combate à impunidade não avançam.
A revolta dos profissionais cresce e a impunidade também. Tá difícil informar à população! O brutal ataque à Charlie Abdo é prova disto! Repudiemos esta insanidade.

Jornalista, diretor da Associação Riograndense de Imprensa


Fonte: Correio do Povo, edição de 8 de janeiro de 2015.

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