Para uma nação que já perdeu mais de 70 mil vidas em 13 anos por causa de ataques terroristas, não é fácil falar em "ponto de virada".
Mas o ataque brutal em uma escola para filhos de militares em Peshawar – que matou mais de 100 crianças – pode bem se tornar um marco de mudança em um país cujos governantes há muito tempo alegam "falta de consenso" para explicar as dificuldades e a resistência em lidar com os vários grupos extremistas que atuam dentro de suas fronteiras - do Talebã a Al-Qaeda.
Provavelmente isso explica a recepção política morna dada à inicitiva do chefe do Exército paquistanês, General Raheel Sharif, quando este lançou o que chamou de "operação indiscriminada" contra grupos militantes escondidos no cinturão tribal sem lei do Paquistão.
"Vamos pegá-los", era a mensagem dele, fossem eles do Talebã paquistanês ou do Talebã punjabi, da Al-Qaeda e seus afiliados ou ainda da temida rede Haqqani. As principais lideranças políticas do país, entretanto, optaram por ficar em silêncio.
Mas isso agora deve mudar.
Nesta terça-feira, o Talebã conseguiu atingir o Exército onde mais lhe dói. As 128 escolas administradas pelos militares no país abrigam mais de 150 mil estudantes, sendo que 90% deles são filhos de oficiais do Exército.
Apesar da ligação com o Exército, essas escolas estão tão vulneráveis a ataques quanto quaisquer outras. O ataque trouxe a guerra para a casa do Exército na sua forma mais horrível e brutal.
Demonstração de Força do Talebã
Além disso, eles demonstraram com sucesso que, apesar de o Exército alegar ter destruído sua capacidade operacional e organizacional, o Talebã ainda existe e é plenamente capaz de planejar e atingir o país de acordo com a sua vontade e onde ele bem entender.
E a grande cobertura do ataque dado pela mídia nacional e internacional terá sido um bônus para o Talebã.
E é justamente por tudo isso que essa tragédia pode se tornar um ponto de virada da história em andamento do país.
Através da brutalidade do ataque, os talebãs mostraram aos paquistaneses que há um sentido por trás da determinação do chefe do Exército do Paquistão de ir caçá-los de forma indiscriminada.
Por trás de cada assassinato brutal que cometiam em Peshawar, os combatentes extremistas pareciam não conseguir conter a raiva e frustração pela mudança de posição do general Sharif, que antes era visto como simpatizante ou mesmo ex-aliado.
Para Sharif talvez seja reconfortante saber que, se ainda restava qualquer simpatia por talebãs no Exército - que era o principal mentor do grupo uma década atrás – esta deve ter escoado pelo ralo juntamente com as lágrimas de luto de centenas de famílias de militares em todo o Paquistão.
No entanto, mais importante que isso talvez seja o impacto que essa "terça-feira negra" possa ter na composição da liderança política do Paquistão.
Hoje, o país todo lamenta a tragédia. Amanhã, irá olhar para seus líderes e questionar: o que virá depois?
E dessa vez eles não terão outra opção senão dar uma resposta clara e determinada ao massacre na escola. É só a clareza dessa resposta das lideranças paquistanesas que poderá ajudar a nação a conviver com o preço que teve de pagar por isso.
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