segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

B) A CÂMARA DE VEREADORES DO RIO! EX-BLOG: 3 DIAS DE ENTREVISTAS DE FIM DE ANO COM CESAR MAIA!

                 
1. Ex-Blog: Depois de 2 anos, como você se sente como Vereador do Rio? Cesar Maia: Muito bem. Encaixou-se perfeitamente nas minhas atividades políticas, inclusive extraparlamentares. Depois de dois mandatos de deputado federal e três de prefeito do Rio, o conhecimento e a experiência que adquiri me permitem distribuir de forma adequada meu tempo como político, como economista e minha paixão pela história e pela política internacional. No início do mandato propus e aprovei uma comissão de relações internacionais, que presido. Meus compromissos internacionais nunca são pagos pela Câmara. Socializo em plenário o que aprendo e sugiro atividades aos demais componentes da comissão. É nossa comissão que recebe, em nome da Câmara, visitantes de outros países e toma iniciativas de geminação ativa de cidades como os casos de Baku (Azerbaijão) e Praia (Cabo Verde), onde estive com outro membro da comissão.
                   
2. Ex-Blog: E as críticas que são feitas à Câmara de Vereadores do Rio? Cesar Maia: Devem ser entendidas como críticas a todos os parlamentos brasileiros, nas três instâncias de governo, nada diferente. / Ex-Blog: E o rolo compressor do executivo? Cesar Maia: Enquadra-se na prática política nacional. Os governos elegem 20% dos parlamentares e no dia seguinte à posse contam com 70%. Em nosso caso a oposição efetiva é de quase 20% dos Vereadores. Aqui no Rio há uma distorção: enquanto o executivo aprova quase todos os projetos de lei de seu interesse, 100% –eu disse- 100% dos vetos do executivo são derrubados. Curioso, não é?
               
3. Ex-Blog: Isso imobiliza a oposição? Cesar Maia: No primeiro dia do mandato, em fevereiro de 2013, ao ser entrevistado, afirmei que a enorme maioria parlamentar do prefeito trabalha do plenário para o plenário. A oposição deve trabalhar das “ruas” para o plenário. O quadro político, a opinião pública em relação à cidade e à prefeitura, hoje, é muito diferente do que o foi no final do primeiro mandato. Contribuímos para isso. As unanimidades terminaram. Até a euforia da imprensa com certos vetores de ação do governo, hoje, está mais para o equilíbrio. Imprensa depende da opinião pública, é bom lembrar. A oposição não tem maioria para aprovar suas iniciativas, mas tem densidade para interromper muitas iniciativas. Uma relação com o legislativo tipo rolo compressor prejudica o executivo, que não consegue ouvir os ruídos das ruas. O caso da Educação é exemplar.
                 
4. Ex-Blog: Que outros temas você destacaria como fragilidades do executivo? Cesar Maia: Claramente transportes (caos no trânsito), saúde (OSs), e urbanismo (especulação imobiliária). O BRT, por exemplo: o Ex-Blog já comentou algumas vezes os erros contidos. / Ex-Blog: O que se lê na imprensa é que a cidade é um canteiro de obras. Isso não garante apoio popular? Cesar Maia: É assim há 25 anos desde Marcello Alencar. É natural que com obras em andamento, lançamento e publicidade, a reeleição fosse “missa anunciada”. O mesmo ocorreu comigo e num quadro de adversários sêniores com experiência eleitoral majoritária vivida. As obras rodoviárias, que são o carro chefe da atual administração, não mudam a vida das pessoas. E no caso do transbordo, prejudica, e do “estupro” longitudinal dos bairros afeta a integração dos mesmos. Isso é muito diferente do Rio-Cidade e Favela-Bairro, que multiplicavam a qualidade de vida dos bairros e das comunidades e suas integrações. A cidade é das pessoas e não dos veículos. Essa é a diferença.
               
5. Ex-Blog: E as Olimpíadas 2016? Impulsionarão o final do governo? Cesar Maia: O atual prefeito e sua equipe próxima devem se lembrar de quando eu analisava os desdobramentos dos grandes eventos. Ganha a cidade, é verdade. Mas não ganha o político gestor. Ao contrário. Fiz almoços com todas as equipes das secretarias, em 2005, com vistas ao PAN-2007, mostrando isso. Usei exemplos e um bem próximo a nós: a Rio-Eco-92. Um grande evento gera uma concentração de atenções do governo, da imprensa e das pessoas. Distrai a atenção sobre aquilo que se vem fazendo. Quando termina o grande evento concentrado na cidade, é como se o governo tivesse terminado. As eleições de 1992 e 2008 mostraram isso.
               
6. Ex-Blog: E o Porto Maravilha? Cesar Maia: Aí o erro está no fator tempo. Talvez eu tenha cometido esse erro na Cidade da Música/das Artes, querendo forçar a conclusão no período de governo. E olhe que era um equipamento concentrado num local. Era melhor ter deslizado para um tempo maior, entrando –com previsão- no governo seguinte. O Porto Maravilha, a derrubada da Perimetral, criaram um caos no Centro do Rio. A empreiteira exigiu isso para entregar o túnel, em 2016. O impacto da visibilidade do mar é muito restrito e os carros que passam pelo túnel nem esse impacto terão. O novo bairro só terá densidade em mais uns 15 anos. Tudo poderia ter sido feito num tempo muito mais alargado, sem atingir o Centro como atingiu, afetando as atividades comerciais, de serviços e as pessoas. Lembro que no final de 2016, talvez uns três prédios estejam construídos e assim mesmo na Francisco Bicalho, colados à Presidente Vargas e não no coração da área portuária. O foco num bairro de escritórios foi um erro, que entre outras coisas aumenta os deslocamentos radiais e periferiza os moradores locais. Com o fracasso dos leilões e das vendas de Cepacs, para aumentar a altura dos prédios, a CEF passou a fazer permuta, trocando Cepacs não por dinheiro, mas por andares nos prédios, colocando em risco o retorno do investimento para cobrir o FGTS que serviu de lastro.
               
7. Ex-Blog: Que mudanças faria na Câmara de Vereadores? Cesar Maia: Sou prático. É um absurdo que quando não existam oradores inscritos na primeira parte dos pronunciamentos e debates (das 14h às 16h) a sessão caia até a segunda parte da votação dos projetos. Nesse caso, o regimento deveria entender a sessão como suspensa e se um Vereador chegar e quiser usar a palavra imediatamente, a sessão seria retomada. Outra mudança que daria muito mais participação ao debate seria acompanhar a Câmara de Deputados, que exige 10% de apoiamento para emendas e destaques. Aqui se exige 33%. Esta porcentagem deveria ser reduzida pelo menos à metade, uns 15% dos Vereadores. E a pauta –ordem do dia- que sempre é apresentada com antecipação pela Mesa, é verdade, é totalmente alterada pelo requerimento de Vereadores com 33% de apoiamento, alegando urgência. Deveria haver critério para estas urgências. Todos os dias os vereadores –eu entre eles- buscam esses apoiamentos para colocar seus projetos de lei na frente. Com isso, a ordem do dia é mutilada. Três mudanças simples que ajudariam a tornar o plenário mais ativo e mais atraente.
               
8. Ex-Blog: Como é sua atividade de Vereador? Cesar Maia: Em todos os dias de plenário estou presente na abertura das sessões às 14h e fico até o término, participando da ordem do dia substantiva. Minhas agendas são recebidas na Câmara nesses dias e, nos demais, onde moro ou indo às reuniões para as quais sou chamado. Mantenho minha internet aberta, recebendo uns 300 e-mails por dia, meu site atualizado, a newsletter (Ex-Blog), onde opino, com mais de 60 mil pessoas inscritas voluntariamente, o Facebook, o Twitter, o Formspring, enfim, os instrumentos de interatividade que nos permitem as redes sociais. E minhas atividades políticas junto à direção nacional e à fundação do partido, fazendo representações internacionais, especialmente na IDC (Internacional Democrata de Centro), na qual sou um dos vice-presidentes, e que é hoje a mais importante de todas. Em todas as minhas participações, emito um relatório para a direção do Partido e quando são eventos internacionais formais, envio cópia ao Itamaraty, pois minha participação foi institucional.

Ex-Blog do Cesar Maia

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