quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O PT e a sétima arte

     SOLANGE AMARAL
Enganam-se aqueles que pensam que a sucessão presidencial, em 2010, será
marcada pela modernidade na comunicação, seguindo o modelo de sucesso
adotado pelo presidente Barack Obama, que inovou ao usar com competência
as redes sociais da internet. O governo federal e o PT sabem que o grosso
do seu eleitorado nunca ouviu falar em Twitter ou Facebook, e por isso
apostarão suas fichas num aparelho criado pelos irmãos Lumière, no
século 19, batizado de cinematógrafo.
Peço licença aos patrulheiros de plantão, mas a verdade é que o filme
"Lula, o filho do Brasil", que será lançado no ano da eleição, é o
trunfo que o governo precisa para eleger até um poste. Trata-se de um
filme-exaltação, contando o drama de um homem igual a milhões de outros
brasileiros que vivem em situação de miséria no país. O problema é que o
filme conta apenas a verdade que interessa ao Planalto, omitindo os
desvios éticos do protagonista, já como presidente, como a compra de
parlamentares no escândalo do Mensalão, o aparelhamento de organizações
sociais e os acordos para consolidar sua base política.
Será que o Planalto, através do seu diligente ministro da Justiça, Tarso
Genro, permitiria a exibição de um documentário, no estilo Michael
Moore, contando os bastidores dos oito anos do governo petista? O público, que
será brindado com cenas lacrimosas de um retirante que se tornou
presidente, também tem interesse em conhecer os métodos usados pelo
"Cara" para domesticar a UNE, o MST e as centrais sindicais.
O cruzamento de imagens de arquivo, onde Lula chamava de corruptos
aqueles que hoje são seus aliados, é reflexão necessária sobre uma realidade que
não pode ser omitida, para o filme ter começo, meio e fim.
Para quem não está convencido de que "Lula, o filho do Brasil" é um
panfleto eleitoral, o próprio presidente dá a pista sobre a verdade que
se esconde no escurinho do cinema. Com o filme pronto, sua meta é criar
salas de exibição nas periferias do Brasil. A proposta de criação do Vale
Cultura, encaminhada com pedido de urgência urgentíssima ao Congresso, é
excelente. Mas por uma questão de respeito e equilíbrio do jogo
democrático, é inaceitável que o acesso à cultura seja impregnado por
intenções político-eleitoreiras.
A senadora Marina Silva e os governadores José Serra e Aécio Neves
rendem excelentes filmes. Nas mãos habilidosas de um cineasta, qualquer
história toca a sensibilidade de um povo.


"Lula, o filho do Brasil" não foi feito para emocionar.

A meta é eleger sua candidata em 2010.

 

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