sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

O Protocolo de Kyoto

A entrada em vigor do Protocolo de Kyoto é um passo à frente para a conscientização internacional sobre a importância da proteção ao meio ambiente. O objetivo do protocolo, ratificando por 141 países, é controlar os efeitos de gases que, ao aprisionarem calor na atmosfera, aquecem o planeta. Estudos científicos estimam que o chamado efeito estufa, num processo gradativo, poderá provocar alterações do clima, cujo degelo das calotas polares seria o resultado catastrófico mais sério. Embora todos os cálculos quanto ao aquecimento do planeta assegurarem que tal hipótese é remota, a redução gradativa da emissão dos gases produzidos pela queima de fósseis é medida de segurança recomendada pela ciência.
O lamentável é que os Estados Unidos, responsáveis por um quarto das emissões poluentes, recusem-se a ratificar o protocolo, mantendo a posição firmada pelo presidente George W. Bush quando da investidura em seu primeiro mandato, em 2001. mesmo assim, governadores de quase a metade dos estados discordam da postura do presidente Bush e prometeram trabalhar em favor da cooperação internacional para uma melhor qualidade de vida no planeta, estimulando a adoção de políticas públicas antipoluição que não dependem, para sua implantação, da esfera federal.
Os países desenvolvidos do Primeiro Mundo, altamente industrializados, pelo Protocolo de Kyoto, comprometem-se em reduzir em determinadas porcentagens o nível de emissão de gases registrados em 1990.
Países emergentes, como Brasil e Índia, só terão metas a cumprir depois de 2012. Mesmo assim, em sua política de proteção ao meio ambiente, o Brasil, que conta em seu território com a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, com a implantação do Sistema de Vigilância da amazônia (Sivam), combate o desmatamento e as queimadas, fatores que concorrem para o aumento do efeito estufa. Na complicadíssima engenharia das negociações internacionais, o Protocolo de Kyoto pode não ser o suficiente, mas pode ser considerado um avanço na harmonização das preocupações ambientalistas, que ganharam corpo a partir da década de 70, com os interesses econômicos dos países.



Fonte: Editorial do Correio do Povo, página 4 de 18 de fevereiro de 2005. 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

Chávez, novo Fidel?

A política, em qualquer lugar onde se exercite a mutação democrática, tende a ser ondulante: o réprobo de hoje, e a história está aí para confirmar, pode ser o herói de amanhã e vice-versa. Pois este senhor Hugo Chávez, ainda há pouco tempo quase apeado pela opinião pública do governo da Venezuela, vai tomando o papel de líder sul-americano disputado com Lula. Sem sucesso, para citar o episódio mais recente, no Fórum Social Mundial, foi estrondoso. No penúltimo dia do Fórum, sendo um dos oradores escalados, recolheu aplausos como ninguém antes recolhera. Falou coisas óbvias para o congresso, nada de novo em termos de políticas sociais e de integração, tudo dito e repetido por outros intérpretes, inclusive pelo próprio Lula, então de partida para Davos, onde falaria a outros senhores, estes representantes do capitalismo. Lula, por isso, colheu algumas vaias, de que passou recibo na base do “paz e amor”, que cultiva com maestria.
Voltando porém a Chávez: além da oratória de cunho social, foi especialmente prático ao assinar protocolos de intenções como o governo brasileiro para adoção de regras usadas em um assentamento de sem-terra nas proximidades de Porto Alegre, coisa sem grande importância por tratar apenas intenções, como o nome do protocolo indica, mas de muito efeito como marketing prático. Na sua aparatosa fala, dissertou sobre o papel da América do Sul, “que detém o futuro do Norte”, frase de interpretação cerebrina e incompreensível, mas de fato excelente para oportunidade. Terminou conquistando para seu país o galardão de ser uma das sedes prováveis do Fórum Social Mundial de 2006. Em suma, ficou sob a luz dos holofotes enquanto Lula se ofuscava no meio dos figurões de Davos...
É, tudo indica, ainda muito cedo para ser ter a certeza de que o índio venezuelano do país que já teve o tirano Gomez como líder venha a ser uma referência na história do continente meridional americano. Mas força e determinação não lhe faltam para isso. Parece questão de tempo para ser Fidel.



Fonte: Editorial do Correio do Povo, página 4 de 2 de fevereiro de 2005.