quarta-feira, 17 de novembro de 2004

O amigo ''velho''

O competente professor de jornalismo da ULBRA, Luiz Artur Ferraretto lançou o livro “Rádio no Rio Grande do Sul”. Abrange os anos 20, 30 e 40 e muito bem pesquisadas. Numa delas, a participação de Érico Veríssimo em pioneiro programa infantil. Valendo-se do depoimento de Maurício Rosemblatt, grande amigo de Érico Ferraretto conta que o escritor saia correndo da Livraria do Globo, subia a Borges de Medeiros e as escadarias do viaduto e chegava ao microfone da PRH-2, da Rádio Farroupilha, onde improvisava histórias para as crianças que apinhavam o estúdio da emissora. Érico era o “amigo Velho” w a gurizada formava o “Clube Os 3 Porquinhos”. Sucesso absoluto. Em 1937, porém, o Estado Novo, quis submeter à censura as inocentes histórias. Érico, sempre altaneiro e independente, recusou, tirando-o do ar.


Fonte: Flávio Alcaraz Gomes, Correio do Povo, página 4 de 17 de novembro de 2004.

Uma homenagem ao mestre Salvador Dalí

O Centro Cultural Brasil Espanha, a Embaixada da Espanha no Brasil e a Agência Espanhola de Cooperação Internacional Salvador Dalí, através da mostra “Dalí por artistas daqui”. A exposição pode ser visitada até 23 de novembro, de segunda a quinta, das 14h às 19h, na rua Felipe Camarão, 71.

São 92 artistas, entre eles Zorávia Battiol, Mbel Fontana, Estelita Branco, Eunice Lima, Fátima Siqueira Borges, Marilice Costi, Lecia Maria Bohne Eduardo Rangel Baptista, que procuram retratar um pouco do magnífico artista espanhol, um dos mais conhecidos do século XX. Nascido em 1904, na cidade catalã de Figueires, Dalí foi atraído pelo surrealismo a partir de 1927. O movimento, que iniciou em Paris, tinha sido influenciado pelas teorias de Freud. Dalí criava obras ditadas pelo inconsciente através do sonho e, de 1929 a 1939, pintou suas obras mais famosas.

Salvador Dalí faleceu em 20 de janeiro de 1989, aos 84 anos de idade e seu corpo embalsamado está enterrado em uma tumba sob a cúpula do Museu de Figueires, na Espanha.

Fonte: Correio do Povo, página 20 de 17 de novembro de 2004.

domingo, 14 de novembro de 2004

Terra sem História, por Voltaire Schilling*

a partida para o Alto Parus é ainda o meu maior, o meu mais belo e mais arrojado ideal. Estou pronto à primeira voz. Partirei sem temores... nada me demoverá de um tal propósito”

Euclides da Cunha, Carta de Guarujá 6/7/1904.

O primeiro encontro dos dois, de Euclides da Cunha com o Barão do Rio Branco, deu-se no palacete Westfália, em Petrópolis, em julho de 1904. Local para onde o chanceler se retirava em descanso. Quem levou o escrito até a presença do Juca Paranhos, como o barão era conhecido em moço, foi um diplomata, Domício da Gama, por igual um intelectual. Apesar da timidez, dele, de Euclides da Cunha, frente a Rio Branco, àquela altura um verdadeiro monumento nacional, os dois conversaram por cinco horas. O escritor só se viu liberado às duas da madrugada.

Ambos estavam no auge da fama, Euclides, com a publicação de Os Sertões, em 1902, denunciara a guerra do governo brasileiro contra os caboclos da Bahia; o outro, pelo Tratado de Petrópolis, de 1903, evitara que os caboclos do Acre entrassem em guerra contra o governo de La Paz.

Os unia a paixão pela História e pelo Brasil. De resto eram diferentes em tudo. O barão descendia do patriciado luso-brasileiro, era filho do Visconde de Rio Branco, homem habituado aos viveres da Europa. Um monarquista que se colocara a serviço da República, Euclides, ao contrário, era “um bugre”, como ele mesmo dizia. Um cariri, um indiozinho que, moço, fora republicano mas que àquelas alturas se decepcionara com o regime de 1889. Ao contrário do barão, nunca fez questão de ir conhecer Paris. Queria, isto sim, era desbravar “as paisagens bárbaras”, meter a cara nos assombros do Brasil ainda pouco desconhecido.

O barão, sempre atento aos talentos, o satisfez. Em 9 de agosto de 1904, nomeou-o chefe da Comissão do Alto Purus para ir fixar as longínquas fronteiras com o Peru. Talvez esperassem dele de uma outra maravilha literária resultante do contanto de Euclides com as selvas.

A Amazônia frustrou o escritor. Impressionante sim. Muita água, imensa, barrenta, perigosa, muito mato, muito cipó e muito bicho. Uma “imensidão deprimida”. De dia silenciosa, de noite um carnaval. A fauna, aos ruivos, aos gritos e aos pios, fazia a festa a partir do pôr-do-sol. Sentiu-se lá um Adão no jardim paleozoico. Tudo lhe era estranho, fantástico, e muito chato. Tudo lhe era estranho, fantástico, e muito chato. Para onde se olhava via-se a desolação, tudo raso e plano.

O rio, sempre desbordando, desmoralizava qualquer trabalho sério. A marge de hoje soçobrava nas correntes do amanhã. Lá, as matas caminham em meio a um tumulto permanente produzido pelas monstruosas leis fisiológicas da região. Os moradores, pendurados nas palafitas, só sobreviviam pelo nomadismo. Por isto, na Amazônia, excetuando-se a concentração enérgica dos seringueiros em Manaus, a civilização era impossível. De resto, o caucheiro “é o homúnculo da civilização”, vilmente explorado pelos coronéis do barranco. Era um reino sem história - “à margem da história”, como designaram a coletânea de artigos dele publicada em 1907.

Chegado a Manaus em 30 de dezembro de 1904, depois de uma viagem de 17 dias, rumou logo pôde para a sua missão. Acompanhou-o um capitão peruano, dom Pedro Buenaño. Até por um naufrágio ele passou no Baixo Purus. De onde estava quando podia, informava o barão. A Amazônia era uma esfinge. Ninguém conseguia abarcar o seu todo. Mal e mal captavam-se facções da natureza. A amplidão é tal que ofusca o entendimento, inibe mesmo uma “inteligência heroica”.

Antes de findar a expedição que durou quase um ano. Em carta a Domício de Gama, Euclides imaginou o ridículo de uma guerra entre o Brasil e o Peru. Como se dois duelistas, um no alto do Pão de Açúcar e o outro no Corcovado, tentassem terçar espadas separados por um abismo vazio.

Bendita essa viagem de Euclides de cem anos atrás. Ainda que a Amazônia continue rendendo muito pouco, a nossa ensaística enriqueceu-se com as observações dele, ao ponto de até hoje, entre tantos que escreveram sobre aquela “Terra sem História”, ninguém conseguiu deixar, em prosa, nada que fosse superior à de Euclides da Cunha.

*Historiador

Fonte: Zero Hora, página 13 de 14 de novembro de 2004.

 

quinta-feira, 4 de novembro de 2004

Presídio Central / Acredite ou não


Na bela obra “Os viajantes olham Porto Alegre”, de Sérgio da Costa Franco e Valter Antônio Noal, o alemão Victor W. Esche, que aqui esteve provavelmente em 1888, descreve nossos principais prédios e se admira, dizendo que “... o estrangeiro fica particularmente comovido pelo fato de ser o presídio a construção mais luxuosa da cidade e também a de maior bom gosto, construído em estilo de castelo, cercado externamente por altos muros.
Quanto aos presidiários, 'para um alemão acostumado à disciplina militar', é um espetáculo engraçado vê-los perambulando pelas ruas da cidade em seus trajes de presídio, com as correntes tilintando e desaparecerem dentro de um botequim, enquanto o policial que está vigiando, se não for convidado, espera pacientemente à porta, até o sr. Prisioneiro se fortaleça suficientemente”.



Fonte: Flávio Alcaraz Gomes, Correio do Povo, página 4 de 4 de novembro de 2004.

quarta-feira, 3 de novembro de 2004

Santa Catarina desenvolve maçã resistente

Resistente ao frio no período de brotação, uma nova variedade de maçã, a castel gala, já estará no mercado em janeiro de 2006. A cultivar, lançada em junho durante o Enfrute, em Fraiburgo (SC), vem sendo desenvolvida há cinco anos pelo agrônomo Jânio Seccon, de Monte Castelo (SC). Em convênio com a Epagri, as mudas são multiplicadas para preparar a venda. “A vantagem é que a gala standart exige 700 horas de frio para brotar enquanto essa requer 400 horas, podendo ser plantada em regiões mais quentes.” Com isso, os frutos podem ser colhidos até quatro semanas antes da variedade convencional, período em que o mercado oferta somente produção do ano anterior, armazenadas em câmaras frias. “Em geral, maçãs recém-colhidas e comercializadas do Natal ao final de janeiro têm preços maiores que os obtidos a partir da colheita da gala, de fevereiro em diante”, explica o técnico agrícola da Epagri de Monte Castelo, Pedro Cardoso.

A castel gala tem origem numa mutação genética natural da planta. Seccon conta que lhe chamou à atenção a um único ramo da muda já brotado e florescido em pleno inverno. “Cortei ele e comecei a enxertar e multiplicar. Fiz 30 mudas, acompanhando a floração, produção e incidência de doenças e pragas”. Depois, firmou parceria com a Epagri para realização de novos testes. Novos enxertos foram feitos sobre Maruba / M-9 e, para confirmação, sobre a M-9. “No ciclo 2003/04, constatou-se que todas as plantas apresentavam brotação e floração uniformes, bem mais precoces que a gala, confirmando mutação homogênea e estável para essas características. “A Epagri já fez o registro e proteção da variedade junto ao Mapa. “Quando começar a produzir as mudas, repassei um percentual da venda à Epagri”, diz Secoon, detentor dos direitos comerciais para multiplicação e venda das mudas.

Fonte: Correio do Povo, página 15 de 3 de novembro de 2004.