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domingo, 15 de agosto de 2004

O tiro que parou o Brasil, por Jerri Roberto S. Almeida

Aquela parecia uma manhã como todas as outras, não fosse um tiro de um colt calibre 32. Um tiro, não qualquer tiro, mas um que entraria para a História brasileira como responsável pelo fim de uma de suas mais intrigantes personalidades: Getúlio Dornelles Vargas. Era manhã de 24 de agosto de 1954, o dia em que um tiro parou o Brasil, era o suicídio do presidente Vargas. Cinquenta anos passaram-se e Getúlio continua sendo, possivelmente, o líder mais estudado, pesquisando, discutindo e sobre qual mais se tem escrito em nossa historiografia.
Temido ou amado, respeitado ou odiado, Getúlio Vargas marcou importante Era na história de nosso país. Portador de personalidade forte, para vários de seus estudiosos Vargas encarnou o ditador e populista sabendo adequar às exigências do momento histórico em que vivia, sem deixar, entretanto, de perseguir suas ideias e determinações. O período getulista, que se inicia com a Revolução de 30, ensejou uma ruptura no poder das oligarquias do Sudeste, representativas dos grandes fazendeiros do café. Getúlio, o gaúcho que se iniciara sua vida política em 1909, eleito deputado estadual e percorrendo uma carreira ascendente, assumia a presidência do Brasil devido a deposição, em 24 de outubro de 1930, do então presidente Washington Luís.
Era o início de suas gestões, de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. Nesse período, o Brasil aspirava o projeto nacionalista desenvolvimentista que tentava a saída ra um capitalismo autônomo, não atrelado aos interesses internacionais, mas é aliado à ideia de modernização urbano industrial. Tal proposta, todavia, ensejaria um universo mais amplo de realizações, quer visando à contenção das classes trabalhadoras, com a criação da Carteira de Trabalho e da Previdência Social (1932), o salário mínimo (1940), a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho (1943) ou com o projeto modernizador. Desse último, vale citarmos a criação da Companhia Siderúrgica Nacional, que entrou em operação em 1946 e a criação da Petrobras, aprovada no Congresso em 3 de outubro de 1953.
Portador de uma capacidade ímpar de negociar com os mais diversos setores da sociedade, Getúlio Vargas é, ainda hoje, reconhecido por muitos de seus seguidores como o “pai dos pobres” alcunha granjeada devido ao seu estilo de governo paternalista, centrado em sua figura carismática, que, entre outras coisas, “detinha a salvação do país”, concedendo benefícios importantes à classe trabalhadora. De certa forma, talvez isso explique a intensa manifestação e indignação popular com sua morte. O povo, quando soube do ocorrido, saiu às ruas em todas as principais cidades do país enfurecido contra os setores oposicionistas a Getúlio. Carlos Lacerda, o principal líder da UDN (União Democrática Nacional), histórico inimigo de Vargas, teve, inclusive, que se refugiar no Exterior.
Com seu gesto, Getúlio Vargas surpreendeu mais uma vez, derrotando seus opositores e adiando, por 10 anos, o golpe militar de 1964.

Historiador


Fonte: Zero Hora, página 16 de 15 de agosto de 2004.

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