O
tom pode ter sido de brincadeira, mas o conteúdo da declaração do
presidente Lula em Santo Domingo é inequívoco: - Vocês são um
bando de covardes mesmo. Não tiveram coragem de defender o conselho
nacional de jornalistas.
Ou
seja: o presidente da República acha que foi por falta de coragem
que não defendemos o monstrengo que o Palácio do Planalto
patrocinou, atendendo à reivindicação da Federação Nacional dos
Jornalistas.
No
Aurélio, covardia e sinônimo de falta de coragem, medo, timidez,
poltronice, fraqueza de ânimo, pulsilaminidade. A frase contém uma
insinuação nas entrelinhas: a de que os jornalistas adorariam
defender o projeto mas não o fazem por medo.
Se
lesse o que o jornalista de norte a sul do Brasil têm escrito sobre
esse projeto, o presidente saberia que não se trata de falta de
coragem para defender a proposta. É convicção mesmo.
Talvez
Lula tenha razão em um ponto: é medo também. Não medo de
desagradar aos seus empregadores, como insinua, mas de ter o registro
profissional cassado por colegas investidos no papel de juiz,
decidindo o que é certo e o que é errado, como se jornalismo fosse
uma ciência exata.
É
verdade que muitos jornalistas ainda não tinham nascido e os
sindicalistas já reivindicavam a criação de um conselho ou coisa
parecida. Nunca se consultou um a um para saber o que achamos. Talvez
por saberem que a maioria dos jornalistas em atividade não deu
procuração à Fenaj para falar em seu nome, os presidentes que
antecederam Lula nunca propuseram a criação de um conselho para
“orientar, disciplinar e fiscalizar” a atividade jornalística.
Criticado
pelos principais colunistas do país, o assunto começava a morrer.
Até o presidente do PT, José Genoíno, tinha sugerido a retirada do
projeto. O presidente boquirroto se encarregou de ressuscitá-lo.
Fonte:
Coluna página 10, Zero Hora, página 8 de 18 de agosto de 2004.
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