Data Nacional do
Uruguai – 18/07/1830
“Ni enemigos le
humillan la frente,
Ni opresores le
imponen el pié.”
(Versos do hino
nacional uruguaio)
Dezoito de julho, data
do juramento da sua Constituição de 1830 é a data nacional do
Uruguai. E o fato de termos nascido na fronteira de Jaguarão, onde
brasileiros e uruguaios convivem fraternalmente, e de termos
trabalhado na fronteira de Quaraí, junto à simpática e acolhedora
cidade de Artigas, arrolou-nos definitivamente entre os amigos e
admiradores da República Oriental.
O Uruguai, com
escassos 180 mil quilômetros quadrados, o equivalente a dois terços
do Rio Grande do Sul, parece um desses milagres pouco explicáveis da
geopolítica. O fato de haver resistido às pretensões
expansionistas de dois vizinhos poderosos – Argentina e Brasil –
exige algo mais que meras explicações casuísticas. A posse de um
porto acessível e de águas profundas, melhor que o seu concorrente
da outra margem do Prata, desenha-se como a matriz principal da
vocação autonomista dos orientais, cujo destino mais lógico teria
sido a vinculação com as Províncias Unidas do Rio da Prata. Por
outro lado, se não fosse Montevidéu um seguro porto para a
navegação oceânica, enquanto o nosso Rio Grande era um cemitério
de navios e de vidas, é bem possível que a transitória
incorporação da Cisplatina ao Brasil pudesse ter perdurado. Mas a
História não se faz de hipóteses e de discursos condicionais. Os
uruguaios hão de concordar em que sua nação tudo deve ao seu
porto, onde, aliás, se concentra quase a metade da população do
país. Também é pacífico que a diplomacia britânica, interessada
na existência de um Estado-tampão entre Argentina e Brasil, foi a
madrinha da independência uruguaia. Porém, o fato de o Uruguai ter
atravessado 176 anos de vida independente sem submeter-se à gula e
às ambições de seus vizinhos revela uma nação de personalidade,
de identidade própria e de aspirações autônomas. Mesmo que, ao
nascer, tenha sido acalentada pela poderosa Inglaterra – um criador
que, ao longo do temo, perdeu o controle de suas criaturas...
Entretanto, o que mais
cabe admirar, na história do Uruguai, é a sua devoção à educação
popular, mormente a partir da grande reforma escolar de 1876,
empreendida por José Pedro Varela. Adotando os princípios da
gratuidade e da laicidade da escola pública, o jovem José Pedro
Varela, que faleceu aos 34 anos de idade, iniciou em seu país uma
verdadeira revolução, responsável por maiúscula transformação
na vida cultural. Em sua exposição de motivos, Varela registrava
que, nos últimos 45 anos, houvera 19 revoluções no país, e que,
desde a independência, nem 10 livros tinham sido editados.
Revoluções e maus governos, segundo ele, seriam corolários da
ignorância popular. Apesar da reação do clero, do bispo de
Montevidéu, dos políticos que perdiam a faculdade de nomear e
desnomear professores, a reforma foi implantada, com pulso firme pelo
presidente Latorre, um autoritário de visão reformista e
modernizante. E o fato é que, por longos anos, foi modelar a
instrução pública no Uruguai, causando inveja aos brasileiros da
fronteira, cujas aulas, por vezes, não bastavam para atender à
população em idade escolar, obrigando-nos à suma vergonha de
matricular crianças brasileiras na escola de “allá”.
Em verdade, nunca
tivemos no Rio Grande do Sul um programa eficiente de educação,
como o que se implantou na República Oriental. Nem conseguimos
atingir os índices de escolaridade e alfabetização alcançados na
pátria de Artigas. Só esse fato justifica homenagem muito calorosa
ao Uruguai em sua data nacional.
*Historiador
Fonte: Zero Hora,
página 17 de 18 de julho de 2004.
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