Radiografia da
desigualdade
Estudo classifica
participação de países na produção científica mundial. Brasil é
23º
A produção
científica de ponta é marcada por uma esmagadora assimetria entre
os países do mundo. Um grupo de 31 nações – incluindo o Brasil –
é responsável por 98% dos artigos mais citados em revistas
especializadas nos últimos anos. Os outros 162 países do globo
respondem por apenas 2% desses artigos. A desigualdade é ainda mais
impressionante se considerarmos apenas oito países de maior produção
científica: esse grupo concentra 84,5% dos artigos mais citados.
A conclusão é de um
levantamento publicado em 15 de julho na revista Nature, em
que David Ling, da Agência de Ciência e Tecnologia do Reino Unido,
compara e analisa a participação de cada país na produção
científica mundial. O britânico levou em conta dados relativos ao
período entre 1993 e 2002, compilados pelo Thomson ISI, instituto
responsável por reunir informações sobre mais de 8000 periódicos
publicados em 36 línguas.
A análise de King se
concentrou nos 31 países responsáveis por praticamente toda a
ciência de ponta no mundo – definida como o grupo de 1% de artigos
de cada especialidade mais citados por ano. A lista é encabeçada
pelos Estados Unidos, que têm participação em 62,76% dos artigos
mais citados. Completam o 'top-10 da ciência' Reino Unido, Alemanha,
Japão, França, Canadá, Itália, Suíça, Holanda e Austrália.
Com a participação
em apenas 0,5% dos artigos mais citados, o Brasil aparece na 23ª
posição, atrás de China (19º), Coreia do Sul (20º), Polônia
(21º) e Índia (22º). A lista com os 31 países de maior produção
científica conta com um único representante africano: a África do
Sul, na 29ª colocação. Na 30ª posição, o Irã é o único país
do mundo islâmico.
A participação
brasileira é um pouco mais significativa se considerado o total de
artigos publicados nos periódicos indexados. Nesse ranking, o país
ocupa 17ª colocação, com participação em 1,21% do total de
artigos. Mas a posição do país poderia ser bem mais baixa se
tivesse sido usado um critério que medisse a transformação do
conhecimento científico em tecnologia e inovação – como o número
de pacientes, por exemplo. Em levantamento recente da ONU para
avaliar as realizações tecnológicas de 72 países, o Brasil ficou
na 43ª posição.
Embora receba
críticas, o critério adotado por King – número de artigos
publicados em periódicos indexados e número de citações – é o
mais utilizado em estudos para medir a participação relativa na
produção científica mundial. O britânico considera que o amplo
volume de artigos considerados no levantamento possa compensar
eventuais distorções provocadas pelo critério de avaliação.
Em seu artigo, King
especula sobre as razões por trás da disparidade entre países
constatada: “O desenvolvimento econômico sustentável nos mercados
globais altamente competitivos requer um engajamento direto na
geração de conhecimento”, diagnostica. “Mesmo melhoras modestas
na saúde pública, saneamento básico, alimentação e transporte
requerem capacidade em engenharia, tecnologia, medicina, negócios,
economia e ciências sociais que estão além do alcance de mutos
países.”
Fonte: Bernardo Esteves
Ciência Hoje Online
14/07/2004
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